32º
Capítulo
Dias cada vez
mais longos e a sensação da saudade acentua a agonia dos apaixonados, vivendo
em meio às transformações da era digital e amando a moda antiga, padecendo como
Romeu e Julieta.
Amor, amor,
que diz a esses jovens que só sabem chorar nessa fase da vida? O que diz
aqueles que não sabem amar? Aos que se impõem no caminho do amor sendo a pedra
pesada que impede a alegria de atravessar o outro lado do rio? O que diz desse
casal que está perdendo as esperanças?
Marcelo (sentado no chão de casa, escreve para
Laura) – Minha princesa, quanta saudade. Como
tem passado? Ora essa, que pergunta mais descabida, estúpida, ridícula da minha
parte. Desculpa-me por não lidar tão bem com isso como você deve estar
conseguindo. Desculpa-me por não poder ser esse cara perfeito que seus pais
tanto idealizam, mas eu queria que eles soubessem que eu não sou esse monstro
que falaram por aí. Deus sabe o quanto tem sido difícil não chorar, não pensar
em você, me acostumar em não te telefonar mais, não te ver, não ter notícias,
saber que tudo nessa vida tem um propósito maior, mas não saber qual é, meu
amor. Qual? Estamos separados e eu precisando de você, te devendo uma resposta...
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Dia.
Laura
praticamente não come, não tem vontade de nada; sente-se uma legítima
prisioneira, faltando-lhe apenas as chibatadas para que seja condenada pelo que
não fez. Depressiva, todos os seus esforços foram em vão. Escreve porque é o
que a ajuda a colocar para fora a raiva, mas também a saudade que a prende ao
lado de Marcelo cada vez mais.
Laura (escrevendo, chorando) –
Ninguém mais é o mesmo depois que ama pela primeira vez. Sinceramente, Marcelo,
eu nunca pensei que estaria tão perto de morrer de amor. Eu não sei se eu vou
suportar tudo que ta acontecendo, tanta injustiça, tanta ofensa gratuita... Eu
estou sendo prisioneira por tentar viver de verdade e nunca vou compreender
como nos julgam como loucos e marginais quando estamos apenas amando, lutando
por aquilo que acreditamos. Eu espero que algum dia possamos nos ver de novo
pra que eu possa te abraçar de novo, te dizer que não é porque fui gerada por
Amauri e Zélia que compactuo com todas as decisões dele. Só tenho 15 anos, digo
infelizmente, porque queria me libertar daqui...
Curitiba.
Ruas. Dia.
Karinna e
Vinicius se encontram e conversam sobre o impasse em que vivem Laura e Marcelo.
Vinicius – Eu queria
ajudar o Marcelo, mas depois daquele incidente lá eu tenho até medo de interceder
por essa causa.
Karinna – Eu tenho
muito medo de que a Laura acabe morrendo de tristeza... O Adriano e a Daiana
falaram que a Laura já emagreceu, ta sem comer, depressiva, não quer saber de
nada...
Vinicius – E o Marcelo,
então? Já perdeu duas seletivas, não sai pra canto algum, nem pra igreja ta
indo, cara... Ta muito sério isso... Disse o Bituca que o Marcelo é outro,
totalmente diferente daquele truta alto astral que chega causando... Mas quem
anda bem feliz é o Ferradura...
Karinna – Eu não queria
fazer acusações sem provas, mas sinto que isso tudo é obra do Ferradura...
(suspira com raiva de Zélia) Será que agora a dona moralista ta satisfeita pelo
estrago que ta fazendo em duas vidas inocentes?
Vinicius – Até agora,
sempre que vou dormir, me vem à lembrança do jeito que o Amauri tratou a
Laurinha, cara. Não foi digno, não foi bonito, não é o jeito que um pai trata a
uma filha quando ela ta vivendo o momento mais importante da vida dela... Eu
não sou um cara muito sensível, mas doeu demais ver aquilo...
Escola.
Exterior. Manhã.
Adriano e
Laura caminham até o portão acompanhados de Daiana. Logo atrás, Jonathan corre
para alcançar os jovens. Ao saírem da instituição, Vinicius os está esperando.
Como o skatista costuma estar na faculdade, Daiana estranha o encontro com o
irmão.
Daiana – Vini, ta tudo
bem?
Vinicius (tranquilo) –
Ta...
Daiana – Tem certeza?
Vinicius – Por que não
convida a Laura pra passar à tarde com você?
Laura – Eu aceito o
convite, mas eu to encrencada demais e...
Vinicius
consegue embromar a tia da condução e Laura segue com Daiana rumo ao ônibus.
Adriano, no entanto, entra no transporte sem que a namorada ou mesmo o ‘cunhado’
o reconheça. Jonathan não perde a oportunidade para irritar o irmão do meio.
Jonathan – Essa foi por
pouco, molenga.
Já na rua,
Laura ainda está sem compreender o comportamento atípico de Vinicius.
Laura – Daia, você
sabe de alguma coisa que eu não sei?
Daiana – Não mesmo,
amiga.
Laura – Eu vou me
prejudicar mais... Não sei se eu devia ter vindo.
Daiana – Amiga, você
tem que se impor, se defender, provar a verdade. Calada você ta consentindo com
o que estão fazendo com você.
Quando as
adolescentes chegam à casa de Daiana, Laura chega a ficar pálida ao ver Marcelo
sentado no sofá ao lado de Mayara.
Música Poesia
e paixão – Liah.
Laura – Marcelo?
Marcelo
caminha devagar até chegar perto de Laura. Por algum tempo os namorados se
reconhecem pelo olhar e logo se abraçam com muito carinho. Esse encontro foi
idealizado pelos amigos em comum do casal que estavam sofrendo demais ao ver os
protagonistas padecendo à separação.
Laura – Eu te amo
tanto, Marcelo. Eu quero ficar com você pra sempre, meu amor.
Marcelo – Eu também
quero... (beija o rosto e os lábios de Laura) Mas eu não quero que você se
encrenque mais com os seus coroas por minha causa.
Laura e
Marcelo se sentam no sofá. Mayara e Daiana se retiram.
Laura – Eu não quero
mais ficar longe de você.
Marcelo – Eu também
não... Mas tudo ta favorecendo pra isso...
Laura – E você acha
mesmo que é pecado que duas pessoas se amem de verdade? Acha mesmo que a gente
tem que ser castigado pelo simples fato de se gostar profundamente? Quem ama
luta sem forças, quem ama não ouve não como resposta, não deixa a oportunidade
escapar, enfrenta tudo e todos pra fazer o amor dar certo e o que a gente ta
fazendo é dar a vitória às pessoas que querem separar a gente, Marcelo. Eu não
sei quase nada da vida, mas sei que isso não é certo.
Casa de
Daiana. Cozinha. Tarde.
Daiana e Mayara
conversam enquanto organizam as louças no lugar.
Mayara (limpa o fogão) – Eu
acho bonito quando duas pessoas se gostam de verdade. Hoje em dia ta cada vez
mais difícil disso acontecer.
Daiana (enxuga a louça no escorredor) – Pensei
que você tivesse namorado e tal.
Mayara – Por tanto
tempo eu tenho vivido os problemas de casa que fica difícil ter cabeça pra
mergulhar num romance.
Daiana – Eu não
acreditava muito em romance não, pra ser bem sincera...
Mayara – Nunca viveu
um?
Daiana – Paixonite sim,
mas romance só uma vez... Romance mesmo só com o lesado...
Mayara (sorridente) –
Já sei quem é o lesado...
Daiana – Até eu
conhecer o Adriano eu nunca tinha sentido essa coisinha engraçada por aí que
chamam de amor, sabe? Eu via o Adriano no colégio, mas a gente era só amigo,
até que eu fui me aproximando e o conhecendo, vendo que ele era legal; sempre
tímido, no cantinho dele, mas do bem e eu senti que alguma coisa dentro de mim
tava mudando; aí quem me ajudou a chegar nele foi a Laura que conversava
bastante com ele. Eu não tava botando muita fé na nossa ficada, então quando
rolou nosso primeiro beijo eu me senti tão bem, parecia que tinha tirado um
peso do meu ombro, que eu tinha beijado daquele jeito antes, mas era a primeira
vez que eu sentia isso. Desde então nós estamos juntos; namoramos e tudo o
mais, porém a mãe dele não sabe...
Mayara (confusa) – Como assim,
não sabe?
Daiana – Acredita que
a mãe dele não o deixa namorar?
Galpão de
Marcelo. Interior. Tarde.
É fato que
Laura e Marcelo deveriam esperar o casamento para consumarem o amor, segundo o
dogma respeitado pelo skatista. Deveriam e agora sim não poderão mais. O
proibido acentuou a curiosidade, o desejo, a tentação. Um pecado imperdoável
diante dos céus, para quem segue determinadas leis. Quando vividas, são
verdades.
Laura desejou
isso tanto quanto o namorado. Por mais que manifestasse o desejo de manter a
castidade até o matrimônio, os planos mudaram e se o certo é duvidoso, o impreciso
não é necessariamente o logradouro correspondente.
Sentados na
cama de casal, abraçados, mas já vestidos novamente, Laura e Marcelo estão de
mãos dadas, mais conectados do que quando trocaram o primeiro olhar e ali um
feixe de amor nasceu.
Marcelo – Eu não queria
que as coisas entre nós tivessem sido tão rápidas, mas não nos deram outra
escolha.
Laura – Mas você sabe
que é o primeiro e o único, não sabe?
Marcelo (paparicando a amada) –
Claro que sei, meu amor.
Laura – Você acha que
as coisas vão mudar muito entre a gente?
Marcelo – Já mudaram...
A gente deu um passo bem grande e vai ter que dar conta disso.
Laura – Você sabe que
eu quero ficar sempre ao seu lado, não sabe?
Marcelo – Sei sim,
então você tem que prometer que vai fazer tudo direitinho pros seus pais não
ficarem de cara, não terem motivos pra desconfiar...
Laura – Sua primeira
vez também foi comigo?
Marcelo – Não...
Laura – Não?
Marcelo – Eu já me
relacionei com outras garotas com quem cheguei a ‘ir ate o fim’, mas com você a
sensação foi diferente...
Laura – Diferente em
que sentido?
Marcelo e
Laura passam algum tempo conversando sobre o amor, sobre si mesmos e o mundo.
Amam-se às escondidas, enquanto muitos a luz do dia atentam contra o próximo e
disso não se envergonham. Pecadores são os que amam, enquanto aqueles que
aniquilam o brio alheio são tidos como exemplo. Contraditória sociedade.
Casa de Laura.
Sala. Tarde.
Laura não
voltou para casa, como o combinado e a tia da van relatou tudo à Zélia, mas
felizmente não viu a garota, então não dedurou nada. Zélia reclama para Amauri.
Zélia – Laura não é
vista por ninguém desde a saída da escola.
Amauri (possesso) –
Laura não voltou pra casa?
Zélia – Não, Amauri.
Depois de
alguns palpites de Zélia, o casal cogita a possibilidade de Laura estar
escondida na casa de Daiana e o pai da garota, obstinado a dar outro vexame, se
dirige até o local.
Casa de
Daiana. Interior. Tarde.
Daiana está
preocupada com o retorno de Laura.
Daiana – Será que a
Laura e o Marcelo não vão chegar nunca?
Mayara – Às vezes
querer bancar o cupido é problema, Lobinha.
Daiana (se senta no sofá, realista) –
A uma hora dessas é quase certo que os pais da Laura devem estar dando a falta
dela e aí? Sobra tudo pro Marcelo, é claro.
Mayara – Mas se eles
se gostam tanto, por que os pais dela não aceitam?
Daiana – Porque não
querem aceitar, simples assim.
Mayara – Porque até
onde eu sei, ouvi o Ferradura de altos papos com um amigo falando de uma fotos,
um tal de professor Carlos Henrique que visita os pais da menina e vive falando
horrores do Marcelo e da namorada...
Daiana (atônita) – QUE?
Mayara – Se o casalzinho
ta separado, só tem um nome pra isso: Carlos Henrique Teixeira, ou seja, meu
irmão Ferradura.
A campainha
soa numa assustadora insistência.
Daiana – Só pode ser o
seu Amauri.
Mayara – Então calma,
amiga, calma que eu atendo.
Daiana – Calma é o que
eu menos tenho nessa hora.
Mayara – Então deixa
comigo.
Mayara, tão
aflita quanto Daiana, se oferece para abrir a porta. É certo que pela raiva
contida, Amauri arrombaria, no entanto nem sequer reage quando encontra Mayara
pela primeira vez.
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