quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Resistência - 32º Capítulo



32º Capítulo

Dias cada vez mais longos e a sensação da saudade acentua a agonia dos apaixonados, vivendo em meio às transformações da era digital e amando a moda antiga, padecendo como Romeu e Julieta.

Amor, amor, que diz a esses jovens que só sabem chorar nessa fase da vida? O que diz aqueles que não sabem amar? Aos que se impõem no caminho do amor sendo a pedra pesada que impede a alegria de atravessar o outro lado do rio? O que diz desse casal que está perdendo as esperanças?

Marcelo (sentado no chão de casa, escreve para Laura) – Minha princesa, quanta saudade. Como tem passado? Ora essa, que pergunta mais descabida, estúpida, ridícula da minha parte. Desculpa-me por não lidar tão bem com isso como você deve estar conseguindo. Desculpa-me por não poder ser esse cara perfeito que seus pais tanto idealizam, mas eu queria que eles soubessem que eu não sou esse monstro que falaram por aí. Deus sabe o quanto tem sido difícil não chorar, não pensar em você, me acostumar em não te telefonar mais, não te ver, não ter notícias, saber que tudo nessa vida tem um propósito maior, mas não saber qual é, meu amor. Qual? Estamos separados e eu precisando de você, te devendo uma resposta...

Casa de Laura. Quarto de Laura. Dia.

Laura praticamente não come, não tem vontade de nada; sente-se uma legítima prisioneira, faltando-lhe apenas as chibatadas para que seja condenada pelo que não fez. Depressiva, todos os seus esforços foram em vão. Escreve porque é o que a ajuda a colocar para fora a raiva, mas também a saudade que a prende ao lado de Marcelo cada vez mais.

Laura (escrevendo, chorando) – Ninguém mais é o mesmo depois que ama pela primeira vez. Sinceramente, Marcelo, eu nunca pensei que estaria tão perto de morrer de amor. Eu não sei se eu vou suportar tudo que ta acontecendo, tanta injustiça, tanta ofensa gratuita... Eu estou sendo prisioneira por tentar viver de verdade e nunca vou compreender como nos julgam como loucos e marginais quando estamos apenas amando, lutando por aquilo que acreditamos. Eu espero que algum dia possamos nos ver de novo pra que eu possa te abraçar de novo, te dizer que não é porque fui gerada por Amauri e Zélia que compactuo com todas as decisões dele. Só tenho 15 anos, digo infelizmente, porque queria me libertar daqui...

Curitiba. Ruas. Dia.

Karinna e Vinicius se encontram e conversam sobre o impasse em que vivem Laura e Marcelo.

Vinicius – Eu queria ajudar o Marcelo, mas depois daquele incidente lá eu tenho até medo de interceder por essa causa.
Karinna – Eu tenho muito medo de que a Laura acabe morrendo de tristeza... O Adriano e a Daiana falaram que a Laura já emagreceu, ta sem comer, depressiva, não quer saber de nada...
Vinicius – E o Marcelo, então? Já perdeu duas seletivas, não sai pra canto algum, nem pra igreja ta indo, cara... Ta muito sério isso... Disse o Bituca que o Marcelo é outro, totalmente diferente daquele truta alto astral que chega causando... Mas quem anda bem feliz é o Ferradura...
Karinna – Eu não queria fazer acusações sem provas, mas sinto que isso tudo é obra do Ferradura... (suspira com raiva de Zélia) Será que agora a dona moralista ta satisfeita pelo estrago que ta fazendo em duas vidas inocentes?
Vinicius – Até agora, sempre que vou dormir, me vem à lembrança do jeito que o Amauri tratou a Laurinha, cara. Não foi digno, não foi bonito, não é o jeito que um pai trata a uma filha quando ela ta vivendo o momento mais importante da vida dela... Eu não sou um cara muito sensível, mas doeu demais ver aquilo...

Escola. Exterior. Manhã.

Adriano e Laura caminham até o portão acompanhados de Daiana. Logo atrás, Jonathan corre para alcançar os jovens. Ao saírem da instituição, Vinicius os está esperando. Como o skatista costuma estar na faculdade, Daiana estranha o encontro com o irmão.

Daiana – Vini, ta tudo bem?
Vinicius (tranquilo) – Ta...
Daiana – Tem certeza?
Vinicius – Por que não convida a Laura pra passar à tarde com você?
Laura – Eu aceito o convite, mas eu to encrencada demais e...

Vinicius consegue embromar a tia da condução e Laura segue com Daiana rumo ao ônibus. Adriano, no entanto, entra no transporte sem que a namorada ou mesmo o ‘cunhado’ o reconheça. Jonathan não perde a oportunidade para irritar o irmão do meio.

Jonathan – Essa foi por pouco, molenga.

Já na rua, Laura ainda está sem compreender o comportamento atípico de Vinicius.

Laura – Daia, você sabe de alguma coisa que eu não sei?
Daiana – Não mesmo, amiga.
Laura – Eu vou me prejudicar mais... Não sei se eu devia ter vindo.
Daiana – Amiga, você tem que se impor, se defender, provar a verdade. Calada você ta consentindo com o que estão fazendo com você.

Quando as adolescentes chegam à casa de Daiana, Laura chega a ficar pálida ao ver Marcelo sentado no sofá ao lado de Mayara.

Música Poesia e paixão – Liah.

Laura – Marcelo?

Marcelo caminha devagar até chegar perto de Laura. Por algum tempo os namorados se reconhecem pelo olhar e logo se abraçam com muito carinho. Esse encontro foi idealizado pelos amigos em comum do casal que estavam sofrendo demais ao ver os protagonistas padecendo à separação.

Laura – Eu te amo tanto, Marcelo. Eu quero ficar com você pra sempre, meu amor.
Marcelo – Eu também quero... (beija o rosto e os lábios de Laura) Mas eu não quero que você se encrenque mais com os seus coroas por minha causa.

Laura e Marcelo se sentam no sofá. Mayara e Daiana se retiram.

Laura – Eu não quero mais ficar longe de você.
Marcelo – Eu também não... Mas tudo ta favorecendo pra isso...
Laura – E você acha mesmo que é pecado que duas pessoas se amem de verdade? Acha mesmo que a gente tem que ser castigado pelo simples fato de se gostar profundamente? Quem ama luta sem forças, quem ama não ouve não como resposta, não deixa a oportunidade escapar, enfrenta tudo e todos pra fazer o amor dar certo e o que a gente ta fazendo é dar a vitória às pessoas que querem separar a gente, Marcelo. Eu não sei quase nada da vida, mas sei que isso não é certo.

Casa de Daiana. Cozinha. Tarde.

Daiana e Mayara conversam enquanto organizam as louças no lugar.

Mayara (limpa o fogão) – Eu acho bonito quando duas pessoas se gostam de verdade. Hoje em dia ta cada vez mais difícil disso acontecer.
Daiana (enxuga a louça no escorredor) – Pensei que você tivesse namorado e tal.
Mayara – Por tanto tempo eu tenho vivido os problemas de casa que fica difícil ter cabeça pra mergulhar num romance.
Daiana – Eu não acreditava muito em romance não, pra ser bem sincera...
Mayara – Nunca viveu um?
Daiana – Paixonite sim, mas romance só uma vez... Romance mesmo só com o lesado...
Mayara (sorridente) – Já sei quem é o lesado...
Daiana – Até eu conhecer o Adriano eu nunca tinha sentido essa coisinha engraçada por aí que chamam de amor, sabe? Eu via o Adriano no colégio, mas a gente era só amigo, até que eu fui me aproximando e o conhecendo, vendo que ele era legal; sempre tímido, no cantinho dele, mas do bem e eu senti que alguma coisa dentro de mim tava mudando; aí quem me ajudou a chegar nele foi a Laura que conversava bastante com ele. Eu não tava botando muita fé na nossa ficada, então quando rolou nosso primeiro beijo eu me senti tão bem, parecia que tinha tirado um peso do meu ombro, que eu tinha beijado daquele jeito antes, mas era a primeira vez que eu sentia isso. Desde então nós estamos juntos; namoramos e tudo o mais, porém a mãe dele não sabe...
Mayara (confusa) – Como assim, não sabe?
Daiana – Acredita que a mãe dele não o deixa namorar?

Galpão de Marcelo. Interior. Tarde.

É fato que Laura e Marcelo deveriam esperar o casamento para consumarem o amor, segundo o dogma respeitado pelo skatista. Deveriam e agora sim não poderão mais. O proibido acentuou a curiosidade, o desejo, a tentação. Um pecado imperdoável diante dos céus, para quem segue determinadas leis. Quando vividas, são verdades.

Laura desejou isso tanto quanto o namorado. Por mais que manifestasse o desejo de manter a castidade até o matrimônio, os planos mudaram e se o certo é duvidoso, o impreciso não é necessariamente o logradouro correspondente.

Sentados na cama de casal, abraçados, mas já vestidos novamente, Laura e Marcelo estão de mãos dadas, mais conectados do que quando trocaram o primeiro olhar e ali um feixe de amor nasceu.

Marcelo – Eu não queria que as coisas entre nós tivessem sido tão rápidas, mas não nos deram outra escolha.
Laura – Mas você sabe que é o primeiro e o único, não sabe?
Marcelo (paparicando a amada) – Claro que sei, meu amor.
Laura – Você acha que as coisas vão mudar muito entre a gente?
Marcelo – Já mudaram... A gente deu um passo bem grande e vai ter que dar conta disso.
Laura – Você sabe que eu quero ficar sempre ao seu lado, não sabe?
Marcelo – Sei sim, então você tem que prometer que vai fazer tudo direitinho pros seus pais não ficarem de cara, não terem motivos pra desconfiar...
Laura – Sua primeira vez também foi comigo?
Marcelo – Não...
Laura – Não?
Marcelo – Eu já me relacionei com outras garotas com quem cheguei a ‘ir ate o fim’, mas com você a sensação foi diferente...
Laura – Diferente em que sentido?

Marcelo e Laura passam algum tempo conversando sobre o amor, sobre si mesmos e o mundo. Amam-se às escondidas, enquanto muitos a luz do dia atentam contra o próximo e disso não se envergonham. Pecadores são os que amam, enquanto aqueles que aniquilam o brio alheio são tidos como exemplo. Contraditória sociedade.

Casa de Laura. Sala. Tarde.

Laura não voltou para casa, como o combinado e a tia da van relatou tudo à Zélia, mas felizmente não viu a garota, então não dedurou nada. Zélia reclama para Amauri.

Zélia – Laura não é vista por ninguém desde a saída da escola.
Amauri (possesso) – Laura não voltou pra casa?
Zélia – Não, Amauri.

Depois de alguns palpites de Zélia, o casal cogita a possibilidade de Laura estar escondida na casa de Daiana e o pai da garota, obstinado a dar outro vexame, se dirige até o local.

Casa de Daiana. Interior. Tarde.

Daiana está preocupada com o retorno de Laura.

Daiana – Será que a Laura e o Marcelo não vão chegar nunca?
Mayara – Às vezes querer bancar o cupido é problema, Lobinha.
Daiana (se senta no sofá, realista) – A uma hora dessas é quase certo que os pais da Laura devem estar dando a falta dela e aí? Sobra tudo pro Marcelo, é claro.
Mayara – Mas se eles se gostam tanto, por que os pais dela não aceitam?
Daiana – Porque não querem aceitar, simples assim.
Mayara – Porque até onde eu sei, ouvi o Ferradura de altos papos com um amigo falando de uma fotos, um tal de professor Carlos Henrique que visita os pais da menina e vive falando horrores do Marcelo e da namorada...
Daiana (atônita) – QUE?
Mayara – Se o casalzinho ta separado, só tem um nome pra isso: Carlos Henrique Teixeira, ou seja, meu irmão Ferradura.

A campainha soa numa assustadora insistência.

Daiana – Só pode ser o seu Amauri.
Mayara – Então calma, amiga, calma que eu atendo.
Daiana – Calma é o que eu menos tenho nessa hora.
Mayara – Então deixa comigo.

Mayara, tão aflita quanto Daiana, se oferece para abrir a porta. É certo que pela raiva contida, Amauri arrombaria, no entanto nem sequer reage quando encontra Mayara pela primeira vez.

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