quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 28


CENA 1 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - QUARTO DE MALU - INT. - DIA.

FIM DE TARDE. O SOL COLORIA AS ÁGUAS DO MAR DE DOURADO, ANUNCIANDO SUA DESPEDIDA. MALU ESTAVA DE PÉ DIANTE DA JANELA, MAS PARECIA NÃO VER TODA A BELEZA QUE SE DESCORTINAVA DIANTE DE SEUS OLHOS. UM SÓ PENSAMENTO POVOAVA SUA CABEÇA – MARCOS.

 MALU - (para si) A essas horas ele já deve estar em São Paulo...

LIMPOU UMA LÁGRIMA QUE, TEIMOSAMENTE, INSISTIA EM MOLHAR-LHE A FACE. SENHORINHA BATEU LEVEMENTE NA PORTA E ENTROU.

 SENHORINHA - (com ar de mistério e um brilho de alegria no olhar) Querida... visita para você!
 MALU - (voltou-se) Quem é?
 SENHORINHA - Surpresa! Você nem imagina...
 MALU - Fala de uma vez, Senhorinha, que hoje não estou para...
 MARCOS - (cortou, entrando) Com licença. Sou eu, Malu. Preciso falar com você. Pode ser aqui mesmo, no seu quarto?

MALU ARREGALOU OS OLHOS, TOMADA PELA EMOÇÃO.

 MALU - Marcos! Você aqui? Mas você... não viajou?
 MARCOS - Não. Mudei de idéia. Podemos conversar agora?
 SENHORINHA - (animada) Vou me retirar para vocês conversarem à vontade! Com licença.

SENHORINHA SAIU, FECHANDO A PORTA ATRÁS DE SI. MARCOS E MALU ESTAVAM PARADOS, FRENTE À FRENTE.

 MALU - Você disse que quer falar comigo...
 MARCOS - Malu, eu soube o que aconteceu com você, ontem. O acidente. Fiquei muito preocupado.
 MALU - Como soube? Pensei que nem estava mais no Rio...
 MARCOS - Isso não importa. Eu pensei melhor... e vou esperar mais um pouco... pensar mais... para não tomar uma decisão precipitada.
 MALU - (com altivez, a voz pausada) Marcos, eu posso entender que você não me ama e sou obrigada a aceitar isso... Agora a sua piedade, eu não vou suportar. Por favor, vai embora.
 MARCOS - Escuta, Malu, não é nada disso... Eu pensei melhor e vi que estava agindo levianamente. Eu decidi que quero te conhecer melhor, conviver mais com você...
 MALU - (seca) Foi meu pai, não foi? Foi ele que procurou você e pediu um pouco de piedade para a filha coitadinha, desmiolada e suicida... Pois eu te liberto desta missão triste e maçante! Por favor, sai.
 MARCOS - (súplice) Malu, não é nada disso, você está enganada. Eu não sinto pena de você!
 MALU - (mal podia segurar as lágrimas) Você está sendo patético, Marcos Ventura. (dirigiu-se para a porta e abriu) Por favor...
 MARCOS - (insistiu) Por favor, seja razoável. Vamos conversar...
 MALU - (irredutível) Vá em-bo-ra!

MARCOS PERCEBEU QUE NÃO HAVIA MAIS NADA A FAZER ALI E RETIROU-SE.

CENA 2 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO- INT. - NOITE.

FIM DE EXPEDIENTE. MONTEIRO PRADO PREPARAVA-SE PARA IR EMBORA, QUANDO A SECRETÁRIA ANUNCIOU A CHEGADA DE MARCELÃO.

 MONTEIRO PRADO - (no interfone) Marcelão? Mas a esta hora, D. Virgínia? Não, não, espere... está bem, mande-o entrar.

MARCELÃO ENTROU, AFLITO.

 MARCELÃO - Doutor Monteiro, mil perdões! Sei que já encerrou o expediente, mas é urgente!Estou desesperado!
 MONTEIRO PRADO - O que aconteceu? Você está tão nervoso, rapaz!
 MARCELÃO - Trata-se de Laurinha, minha filha de sete anos que mora em Niterói com a avó. Recebi uma intimação judicial. É para dar a Madame X o direito de vê-la!
 MONTEIRO PRADO - Quem é essa Madame X?
 MARCELÃO - É Noêmia, minha ex-mulher. Abandonou a menina, ainda um bebê, e foi morar na Europa. Laurinha acredita que a mãe está morta e agora, ela está de volta, procurando seus direitos! Isso é uma coisa que eu não posso permitir. De jeito nenhum! Vou preso, mas não obedeço! Por favor, me ajude, Monteiro!

CORTA PARA:
CENA 3 - CASTELINHO - INT. - NOITE.

ÀQUELA HORA, O MOVIMENTO NO CASTELINHO ERA INTENSO. DANTE PEDIU MAIS UM CHOPE E CONSULTOU O RELOGIO. EM SEGUIDA, DIVISOU, COM ALÍVIO, A CHEGADADE MARCOS QUE, AO AVISTÁ-LO, APROXIMOU-SE E SENTOU À SUA MESA.

 MARCOS - Boa noite, seu Dante Gurgel. O senhor queria falar comigo?
 DANTE - Obrigado por ter vindo, padre. Eu preciso sim, falar com o senhor.
 MARCOS - Por favor, não me chame de padre. Eu, agora, sou um cidadão como qualquer outro...
 DANTE - Desculpe, eu não sabia.
 MARCOS - Tudo bem. Mas me diga... em que posso ajudá-lo?
 DANTE - Eu sou jornalista. Trabalho para a “Folha do Rio” e estamos iniciando uma série de reportagens sobre Diana Molina. Eu gostaria de entrevistá-lo.
 MARCOS - Que tipo de reportagem?
 DANTE - O senhor sabia que o local onde a moça foi encontrada morta recebe inúmeras visitas todos os dias e que tem gente que acredita que ela é uma santa? Como religioso, eu gostaria de saber sua opinião a respeito...

MARCOS FITOU O JORNALISTA NOS OLHOS, COM TRISTEZA E INDIGNAÇÃO.

 MARCOS - É inacreditável até que ponto o ser humano pode chegar. Como pôde crer que eu contribuiria para esse desrespeito, para essa exploração sensacionalista à memória de Diana? Seu Dante, apesar da sua deformação profissional, espero que tenha um mínimo de consciência e desista dessa matéria sórdida! Não tenho mais nada a fazer aqui. Com licença.

MARCOS LEVANTOU-SE E RETIROU-SE DO LOCAL.

CENA 4 - FOLHA DO RIO - SALA DE GARCIA LOPES - INT. -DIA.

 GARCIA LOPES - Dante, meus parabéns! Excelente a primeira reportagem sobre Diana, a santa de Ipanema. Qual foi a reação dos entrevistados?
 DANTE - Ontem estive com o padre, e me senti muito mal diante dele. É um sujeito impressionante. Ele me olhou dentro dos olhos e parece que viu até o fundo da minha alma. Me senti nu diante dele. Nu e envergonhado. Falando com franqueza, acho que ele percebeu toda a tramoia que nós estamos preparando...
CORTA PARA:

CENA 5 - NITERÓI - CASA DA TIA LALINHA - SALA - INT. -DIA.

 TIA LALINHA - Marcelinho, que bom que você veio, meu filho! Laurinha nem queria ir pra escola, ansiosa pelo passeio que você prometeu a ela!
 MARCELÃO - Ela já chegou?
 TIA LALINHA - Ainda não, mas deve chegar a qualquer momento. É só esperar um pouquinho.
 MARCELÃO - Eu mudei de ideia. Não vou mais levar Laurinha a esse passeio.
 TIA LALINHA - Mas por quê? Ela estava tão feliz...
 MARCELÃO - Bem, eu ia levar minha filha pra falar com uma pessoa e acho melhor a senhora saber. Noêmia voltou. E quer ver Laurinha.
 TIA LALINHA - Meu Deus! Então ela voltou!
 MARCELÃO - Pois é, julguei que ela nunca mais voltasse. Há quase sete anos que estava fora do Brasil.
 TIA LALINHA - Mas ela não tem direito nenhum!...
 MARCELÃO - O juiz acha que tem. E resolveu que ela deve visitar a menina uma vez por semana.
 TIA LALINHA - Como mãe dela?
 MARCELÃO - Pois é! Aí é que tá o problema!

CORTA PARA:
CENA 6 - PRAIA DE IPANEMA - CALÇADÃO - EXT. – DIA.

MARCOS CAMINHAVA, DISTRAÍDO PELO CALÇADÃO. COMO FLASHES DE UM FILME, REVIA MALU CAMINHANDO A SEU LADO EM TERESÓPOLIS; NO CARRO, QUANDO COMUNICAVA A ELA SUA IDA PARA SÃO PAULO E NO QUARTO DA JOVEM, QUANDO ELA, SEGURANDO-SE PARA NÃO CHORAR, PEDIULHE PARA IR EMBORA.

CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - DIA.

A CAMPAINHA TOCOU. SENHORINHA ABRIU A PORTA. ERA
MARCOS.

 MARCOS - Desculpe, Senhorinha. Eu preciso ver Malu. Estou muito preocupado com ela. Sabe me dizer se... ela está mais calma?
 SENHORINHA - Malu não está em casa, Marcos. Ela viajou.
 MARCOS - (surpreso) Viajou? Mas... quando? Para onde?
 SENHORINHA - Bem... ela disse que não nasceu para viver sofrendo por quem não merece... e ligou para as antigas amizades... que, aqui entre nós, eu preferia que se mantivessem bem longe dela! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 28 PÁGINA 08
 MARCOS - Que... que amizades?
 SENHORINHA - Um tal de Alfredinho, Julio Biruta, Selminha e outras companhias nada recomendáveis, do tipo que só arrumam confusão. Até detida pela polícia, junto com eles, ela já foi!
 MARCOS - (cenho franzido, ar de preocupação) Sabe para onde eles foram, Senhorinha?
 SENHORINHA - Para Búzios. O doutor Monteiro tem uma casa na praia de Geribá. Eles foram para lá.

CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DO DELEGADO NOGUEIRA -SALA - INT. – DIA

 DELEGADO NOGUEIRA - Mas eles foram com quem?
 ODETE - Com uma turma de moças e rapazes, Justo. Selma disse que iam para a casa de Malu, em Búzios.
 DELEGADO NOGUEIRA - E o pai de Malu, a família, está lá?
 ODETE - Isso eu não sei. Sei apenas que Selminha foi com o irmão.
 DELEGADO NOGUEIRA - Mas é outro irresponsável! Sabe como é que ele é conhecido nas rodas de Ipanema? Por Julio Biruta. Seu filho.
 ODETE - Mas isso é apelido.
 DELEGADO NOGUEIRA - Todo apelido tem uma razão de ser. E imagine você a minha situação: eu, o Delegado Justo Nogueira, tenho um filho que é conhecido por Julio Biruta. Eu, que faço campanha contra os loucos do volante, os doidinhos da motocicleta e marginais que infestam o bairro. Muita gente há de dizer: mas por que ele não começa por sua própria casa?
ODETE - Ah, relaxa, homem. Deixa eles se divertirem. O que pode acontecer de mal?

CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA DE JANTAR - INT. -DIA.

CECÉU TINHA ACABADO DE ALMOÇAR E CONFERIA O SEU TALÃO DE MEGA-SENA.

 CECÉU - ... 23, 35, 47, 49... Puxa vida! Que azar! (deu um murro na mesa que assustou D. Gigi do outro lado do balcão).
 D. GIGI - (gritou) Cuidado pra não quebrar a mesa, seu Cecéu!

CECÉU COÇOU A CABEÇA, ENQUANTO D. GIGI E SORAIA RIAM, DIVERTIDAS.
 SORAIA - Nunca vi ninguém tão obcecado pra ficar rico!
 D. GIGI - Conhece aquele ditado: “água mole em pedra dura”? Pois eu aposto que, um dia, ele consegue!

CENA 10 - BÚZIOS - CASA DE MONTEIRO PRADO - EXT. -DIA.

MARCOS ADMIROU, POR SOBRE OS MUROS, A BELEZA DO IMÓVEL À BEIRA-MAR. TOCOU A CAMPAINHA E UMA CRIADA VEIO ATENDER. DO PORTÃO ABERTO, MARCOS VIU QUANDO ALFREDINHO E JULIO BIRUTA DAVAM SALTOS - MORTAIS NA MAIOR ALGAZARRA, NA ENORME PISCINA.

 MARCOS - Boa tarde. Malu está?

A CRIADA FEZ QUE NÃO COM A CABEÇA E APONTOU A PRAIA A POUCOS METROS DE DISTANCIA DA CASA.

CENA 11 - BÚZIOS - PRAIA DE GERIBÁ - EXT. - TARDE.

MALU FECHOU OS OLHOS E RESPIROU FUNDO, RELAXADA, SENTINDO A BRISA DO MAR ACARICIAR SEU CORPO. A VOZ A FEZ VOLTAR-SE, COMO UMA ALUCINAÇÃO.

 MARCOS - Você está linda assim, sabia?
 MALU - Marcos!
 MARCOS - Eu precisava vir, Malu! Estou aqui... para pedir sua mão em casamento. Você aceita?

FIM DO CAPÍTULO 28

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