CENA 1 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO - QUARTO DE MALU - INT. - DIA.
FIM DE TARDE. O SOL COLORIA AS ÁGUAS DO MAR DE DOURADO, ANUNCIANDO SUA DESPEDIDA.
MALU ESTAVA DE PÉ DIANTE DA JANELA, MAS PARECIA NÃO VER TODA A BELEZA QUE SE
DESCORTINAVA DIANTE DE SEUS OLHOS. UM SÓ PENSAMENTO POVOAVA SUA CABEÇA –
MARCOS.
MALU - (para si) A essas horas
ele já deve estar em São Paulo...
LIMPOU UMA LÁGRIMA QUE, TEIMOSAMENTE, INSISTIA EM MOLHAR-LHE A FACE.
SENHORINHA BATEU LEVEMENTE NA PORTA E ENTROU.
SENHORINHA - (com ar de mistério
e um brilho de alegria no olhar) Querida... visita para você!
MALU - (voltou-se) Quem é?
SENHORINHA - Surpresa! Você nem
imagina...
MALU - Fala de uma vez,
Senhorinha, que hoje não estou para...
MARCOS - (cortou, entrando) Com
licença. Sou eu, Malu. Preciso falar com você. Pode ser aqui mesmo, no seu
quarto?
MALU ARREGALOU OS OLHOS, TOMADA PELA EMOÇÃO.
MALU - Marcos! Você aqui? Mas
você... não viajou?
MARCOS - Não. Mudei de idéia.
Podemos conversar agora?
SENHORINHA - (animada) Vou me
retirar para vocês conversarem à vontade! Com licença.
SENHORINHA SAIU, FECHANDO A PORTA ATRÁS DE SI. MARCOS E MALU ESTAVAM
PARADOS, FRENTE À FRENTE.
MALU - Você disse que quer falar
comigo...
MARCOS - Malu, eu soube o que
aconteceu com você, ontem. O acidente. Fiquei muito preocupado.
MALU - Como soube? Pensei que nem
estava mais no Rio...
MARCOS - Isso não importa. Eu
pensei melhor... e vou esperar mais um pouco... pensar mais... para não tomar
uma decisão precipitada.
MALU - (com altivez, a voz
pausada) Marcos, eu posso entender que você não me ama e sou obrigada a aceitar
isso... Agora a sua piedade, eu não vou suportar. Por favor, vai embora.
MARCOS - Escuta, Malu, não é nada
disso... Eu pensei melhor e vi que estava agindo levianamente. Eu decidi que
quero te conhecer melhor, conviver mais com você...
MALU - (seca) Foi meu pai, não
foi? Foi ele que procurou você e pediu um pouco de piedade para a filha
coitadinha, desmiolada e suicida... Pois eu te liberto desta missão triste e maçante!
Por favor, sai.
MARCOS - (súplice) Malu, não é
nada disso, você está enganada. Eu não sinto pena de você!
MALU - (mal podia segurar as
lágrimas) Você está sendo patético, Marcos Ventura. (dirigiu-se para a porta e
abriu) Por favor...
MARCOS - (insistiu) Por favor,
seja razoável. Vamos conversar...
MALU - (irredutível) Vá em-bo-ra!
MARCOS PERCEBEU QUE NÃO HAVIA MAIS NADA A FAZER ALI E RETIROU-SE.
CENA 2 - BANCO MONTEIRO PRADO
- SALA DE MONTEIRO- INT. - NOITE.
FIM DE EXPEDIENTE. MONTEIRO PRADO PREPARAVA-SE PARA IR EMBORA, QUANDO A
SECRETÁRIA ANUNCIOU A CHEGADA DE MARCELÃO.
MONTEIRO PRADO - (no interfone)
Marcelão? Mas a esta hora, D. Virgínia? Não, não, espere... está bem, mande-o
entrar.
MARCELÃO ENTROU, AFLITO.
MARCELÃO - Doutor Monteiro, mil
perdões! Sei que já encerrou o expediente, mas é urgente!Estou desesperado!
MONTEIRO PRADO - O que aconteceu?
Você está tão nervoso, rapaz!
MARCELÃO - Trata-se de Laurinha,
minha filha de sete anos que mora em Niterói com a avó. Recebi uma intimação judicial.
É para dar a Madame X o direito de vê-la!
MONTEIRO PRADO - Quem é essa
Madame X?
MARCELÃO - É Noêmia, minha
ex-mulher. Abandonou a menina, ainda um bebê, e foi morar na Europa. Laurinha
acredita que a mãe está morta e agora, ela está de volta, procurando seus direitos!
Isso é uma coisa que eu não posso permitir. De jeito nenhum! Vou preso, mas não
obedeço! Por favor, me ajude, Monteiro!
CORTA PARA:
CENA 3 - CASTELINHO - INT. -
NOITE.
ÀQUELA HORA, O MOVIMENTO NO CASTELINHO ERA INTENSO. DANTE PEDIU MAIS UM
CHOPE E CONSULTOU O RELOGIO. EM SEGUIDA, DIVISOU, COM ALÍVIO, A CHEGADADE
MARCOS QUE, AO AVISTÁ-LO, APROXIMOU-SE E SENTOU À SUA MESA.
MARCOS - Boa noite, seu Dante
Gurgel. O senhor queria falar comigo?
DANTE - Obrigado por ter vindo,
padre. Eu preciso sim, falar com o senhor.
MARCOS - Por favor, não me chame
de padre. Eu, agora, sou um cidadão como qualquer outro...
DANTE - Desculpe, eu não sabia.
MARCOS - Tudo bem. Mas me diga...
em que posso ajudá-lo?
DANTE - Eu sou jornalista.
Trabalho para a “Folha do Rio” e estamos iniciando uma série de reportagens
sobre Diana Molina. Eu gostaria de entrevistá-lo.
MARCOS - Que tipo de reportagem?
DANTE - O senhor sabia que o
local onde a moça foi encontrada morta recebe inúmeras visitas todos os dias e
que tem gente que acredita que ela é uma santa? Como religioso, eu gostaria de
saber sua opinião a respeito...
MARCOS FITOU O JORNALISTA NOS OLHOS, COM TRISTEZA E INDIGNAÇÃO.
MARCOS - É inacreditável até que
ponto o ser humano pode chegar. Como pôde crer que eu contribuiria para esse desrespeito,
para essa exploração sensacionalista à memória de Diana? Seu Dante, apesar da
sua deformação profissional, espero que tenha um mínimo de consciência e
desista dessa matéria sórdida! Não tenho mais nada a fazer aqui. Com licença.
MARCOS LEVANTOU-SE E RETIROU-SE DO LOCAL.
CENA 4 - FOLHA DO RIO - SALA
DE GARCIA LOPES - INT. -DIA.
GARCIA LOPES - Dante, meus
parabéns! Excelente a primeira reportagem sobre Diana, a santa de Ipanema. Qual
foi a reação dos entrevistados?
DANTE - Ontem estive com o padre,
e me senti muito mal diante dele. É um sujeito impressionante. Ele me olhou
dentro dos olhos e parece que viu até o fundo da minha alma. Me senti nu diante
dele. Nu e envergonhado. Falando com franqueza, acho que ele percebeu toda a
tramoia que nós estamos preparando...
CORTA PARA:
CENA 5 - NITERÓI - CASA DA TIA
LALINHA - SALA - INT. -DIA.
TIA LALINHA - Marcelinho, que bom
que você veio, meu filho! Laurinha nem queria ir pra escola, ansiosa pelo
passeio que você prometeu a ela!
MARCELÃO - Ela já chegou?
TIA LALINHA - Ainda não, mas deve
chegar a qualquer momento. É só esperar um pouquinho.
MARCELÃO - Eu mudei de ideia. Não
vou mais levar Laurinha a esse passeio.
TIA LALINHA - Mas por quê? Ela
estava tão feliz...
MARCELÃO - Bem, eu ia levar minha
filha pra falar com uma pessoa e acho melhor a senhora saber. Noêmia voltou. E
quer ver Laurinha.
TIA LALINHA - Meu Deus! Então ela
voltou!
MARCELÃO - Pois é, julguei que
ela nunca mais voltasse. Há quase sete anos que estava fora do Brasil.
TIA LALINHA - Mas ela não tem
direito nenhum!...
MARCELÃO - O juiz acha que tem. E
resolveu que ela deve visitar a menina uma vez por semana.
TIA LALINHA - Como mãe dela?
MARCELÃO - Pois é! Aí é que tá o
problema!
CORTA PARA:
CENA 6 - PRAIA DE IPANEMA -
CALÇADÃO - EXT. – DIA.
MARCOS CAMINHAVA, DISTRAÍDO PELO CALÇADÃO. COMO FLASHES DE UM FILME,
REVIA MALU CAMINHANDO A SEU LADO EM TERESÓPOLIS; NO CARRO, QUANDO COMUNICAVA A
ELA SUA IDA PARA SÃO PAULO E NO QUARTO DA JOVEM, QUANDO ELA, SEGURANDO-SE PARA
NÃO CHORAR, PEDIULHE PARA IR EMBORA.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - DIA.
A CAMPAINHA TOCOU. SENHORINHA ABRIU A PORTA. ERA
MARCOS.
MARCOS - Desculpe, Senhorinha. Eu
preciso ver Malu. Estou muito preocupado com ela. Sabe me dizer se... ela está
mais calma?
SENHORINHA - Malu não está em
casa, Marcos. Ela viajou.
MARCOS - (surpreso) Viajou?
Mas... quando? Para onde?
SENHORINHA - Bem... ela disse que
não nasceu para viver sofrendo por quem não merece... e ligou para as antigas amizades...
que, aqui entre nós, eu preferia que se mantivessem bem longe dela! DOCE
BALANÇO CAPÍTULO 28 PÁGINA 08
MARCOS - Que... que amizades?
SENHORINHA - Um tal de
Alfredinho, Julio Biruta, Selminha e outras companhias nada recomendáveis, do
tipo que só arrumam confusão. Até detida pela polícia, junto com eles, ela já
foi!
MARCOS - (cenho franzido, ar de
preocupação) Sabe para onde eles foram, Senhorinha?
SENHORINHA - Para Búzios. O
doutor Monteiro tem uma casa na praia de Geribá. Eles foram para lá.
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DO
DELEGADO NOGUEIRA -SALA - INT. – DIA
DELEGADO NOGUEIRA - Mas eles
foram com quem?
ODETE - Com uma turma de moças e
rapazes, Justo. Selma disse que iam para a casa de Malu, em Búzios.
DELEGADO NOGUEIRA - E o pai de
Malu, a família, está lá?
ODETE - Isso eu não sei. Sei
apenas que Selminha foi com o irmão.
DELEGADO NOGUEIRA - Mas é outro
irresponsável! Sabe como é que ele é conhecido nas rodas de Ipanema? Por Julio Biruta.
Seu filho.
ODETE - Mas isso é apelido.
DELEGADO NOGUEIRA - Todo apelido
tem uma razão de ser. E imagine você a minha situação: eu, o Delegado Justo Nogueira,
tenho um filho que é conhecido por Julio Biruta. Eu, que faço campanha contra
os loucos do volante, os doidinhos da motocicleta e marginais que infestam o
bairro. Muita gente há de dizer: mas por que ele não começa por sua própria
casa?
ODETE - Ah, relaxa, homem. Deixa eles se divertirem. O que pode
acontecer de mal?
CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA -
SALA DE JANTAR - INT. -DIA.
CECÉU TINHA ACABADO DE ALMOÇAR E CONFERIA O SEU TALÃO DE MEGA-SENA.
CECÉU - ... 23, 35, 47, 49...
Puxa vida! Que azar! (deu um murro na mesa que assustou D. Gigi do outro lado
do balcão).
D. GIGI - (gritou) Cuidado pra
não quebrar a mesa, seu Cecéu!
CECÉU COÇOU A CABEÇA, ENQUANTO D. GIGI E SORAIA RIAM, DIVERTIDAS.
SORAIA - Nunca vi ninguém tão
obcecado pra ficar rico!
D. GIGI - Conhece aquele ditado:
“água mole em pedra dura”? Pois eu aposto que, um dia, ele consegue!
CENA 10 - BÚZIOS - CASA DE
MONTEIRO PRADO - EXT. -DIA.
MARCOS ADMIROU, POR SOBRE OS MUROS, A BELEZA DO IMÓVEL À BEIRA-MAR.
TOCOU A CAMPAINHA E UMA CRIADA VEIO ATENDER. DO PORTÃO ABERTO, MARCOS VIU
QUANDO ALFREDINHO E JULIO BIRUTA DAVAM SALTOS - MORTAIS NA MAIOR ALGAZARRA, NA
ENORME PISCINA.
MARCOS - Boa tarde. Malu está?
A CRIADA FEZ QUE NÃO COM A CABEÇA E APONTOU A PRAIA A POUCOS METROS DE
DISTANCIA DA CASA.
CENA 11 - BÚZIOS - PRAIA DE
GERIBÁ - EXT. - TARDE.
MALU FECHOU OS OLHOS E RESPIROU FUNDO, RELAXADA, SENTINDO A BRISA DO MAR
ACARICIAR SEU CORPO. A VOZ A FEZ VOLTAR-SE, COMO UMA ALUCINAÇÃO.
MARCOS - Você está linda assim,
sabia?
MALU - Marcos!
MARCOS - Eu precisava vir, Malu!
Estou aqui... para pedir sua mão em casamento. Você aceita?
FIM
DO CAPÍTULO 28
0 comentários:
Postar um comentário