sexta-feira, 1 de março de 2013

Doce Balanço - Capítulo 29



CENA 1 - BÚZIOS - PRAIA DE GERIBÁ - EXT. - TARDE.

 MALU - (tentando disfarçar a emoção) Marcos... como me encontrou aqui? Você não devia ter vindo. Por favor, vá embora. Eu... eu não quero me machucar mais uma vez!...
 MARCOS - (segurou-a pelos ombros e olhou-a nos olhos) Escuta, Malu: pare de agir como uma criança mimada! Você tem que me ouvir!
 MALU - (irredutível) Eu não quero! Eu decidi que vou tirar você da minha vida. Por isso chamei meus amigos pra passar uns dias comigo... eles vieram dispostos a me ajudar... e quando tento me convencer que tenho que parar de pensar em você, você aparece, de repente, e me pede em casamento! Olha aqui: você não tem o direito de brincar com meus sentimentos! Você não pode...

NUM IMPULSO, MARCOS TOMOU-A NOS BRAÇOS E BEIJOU-A NOS LÁBIOS. MALU, A PRINCÍPIO, TENTOU RESISTIR, MASAOS POUCOS, ENTREGOU-SE.

 MARCOS - (segurou-a pelos cabelos, com delicadeza) Eu não vim a Búzios; não fiz uma viagem de ônibus de mais de duas horas pra brincar com seus sentimentos. Vou repetir: Maria Luíza Monteiro Prado, você quer se casar comigo?
 MALU - (ainda desconfiada) Você... tá falando sério?
 MARCOS - Como nunca falei em toda a minha vida! E então... aceita?

O ROSTO DE MALU DESANUVIOU-SE. AOS POUCOS, DEIXOUSE TOMAR PELA EMOÇÃO.

 MALU - (sorriu, feliz) Aceito. É o que mais quero nesta vida.
Eu te amo, Marcos. Te amo como nunca amei ninguém.

MARCOS ABRAÇOU-A E BEIJARAM-SE OUTRA VEZ, TENDO COMO CENÁRIO O MAR AZUL DE BÚZIOS DAQUELE FIM DE TARDE.

CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.

NOÊMIA ERA UMA MULHER DE 30 ANOS, MUITO BONITA E EXCEPCIONALMENTE ELEGANTE. MANEIRAS SOFISTICADAS, DE QUEM SABE-SE IRRESISTÍVEL. DIANTE DELA, MARCELÃOERA OUTRO HOMEM. TÍMIDO, QUASE ANGUSTIADO. ELA O ESMAGAVA COM SEU CHARME, SEU AR IRÔNICO.

 NOÊMIA - Onde está Laurinha?
 MARCELÃO - Eu não pude trazê-la... É verdade. Ela está doente. Nada grave, mas está febril.
 NOÊMIA - Ah, é assim... Pois bem, eu vou agora mesmo à casa do juiz. Você se recusa a cumprir o que ele determinou.

A MULHER FEZ MENÇÃO DE LEVANTAR-SE. MARCELÃO A IMPEDIU COM UM GESTO.

 MARCELÃO - Noêmia, vamos conversar. Eu preciso lhe explicar umas coisas... Você saiu daqui há oito anos, depois de fazer o que fez comigo...
 NOÊMIA - (cortou) E agora você quer se vingar!
 MARCELÃO - Não. É que eu disse a Laurinha que a mãe
dela morreu. Afinal, o que eu poderia fazer...quando você se mandou? A verdade era muito pior! Agora você está morta! Entendeu isso? Morta!
 NOÊMIA - (indignada) Você não tinha esse direito, Marcelão! Não podia fazer isso comigo!
 MARCELÃO - Minha cara, se tem alguém aqui que não pode usar as palavras “direitos e deveres”, esse alguém é você! Abandonou sua filha há quase sete anos, casou pela quinta vez com o tal armador sueco, ficou podre de rica! Eu nem esperava vê-la outra vez. Agora volta, de repente, falando em direitos?
 NOÊMIA - Nada disso importa agora. (decidida) O que quero é ver minha filha! Nem que, para isso, tenha que meter você na cadeia!

NOÊMIA SAIU, FURIOSA, DEIXANDO MARCELÃO PARADO NO MEIO DA SALA, BOQUIABERTO.

CORTA PARA:
CENA 3 - BOATE - PISTA DE DANÇA - INT. - NOITE.

SEQUENCIA MOSTRANDO, NA BOATE LOTADA, A CHEGADA DE MONTEIRO PRADO E ISADORA. ELA, MUITO ANIMADA, PUXANDO O BANQUEIRO PARA A PISTA. MONTEIRO SE RECUSANDO, NO INÍCIO, MAS DEPOIS FOI CEDENDO. DANÇAVA DESAJEITADAMENTE, FORA DO RITMO, APENAS PARA AGRADAR A NOIVA.

CORTA PARA:
CENA 4 - SAUNA - INT. - DIA.

MONTEIRO PRADO E MAIS DOIS SENHORES TOMAVAM UMA SAUNA, QUANDO MARCELÃO ENTROU. O BANQUEIRO SAIU DA SALA ENFUMAÇADA PARA FALAR COM O PLAYBOY.

 MARCELÃO - Bom dia, doutor Monteiro! Lembra daquele medicamento japonês que lhe prometi?
 MONTEIRO PRADO - (vivamente interessado) Ah, sim, conseguiu?
 MARCELÃO - (entregando-lhe duas caixas de medicamento) Lógico! Não prometi
 MONTEIRO PRADO - Graças a Deus! Sabe que eu não aguento mais! Toda noite, boate. No fim de semana, escalar montanhas... Só um filho, um filho é a solução!
 MARCELÃO - É um remédio à base de hormônios. A última palavra da ciência. Sei de um caso de um amigo, jovem ainda, casado há cinco anos, sempre esperando um filho e nada... Ele julgava que a culpa era da mulher e não era, era dele. Hoje, tem gêmeos.
 MONTEIRO PRADO - (excitado) Eu não ambiciono tanto. Um bastava. Vou começar hoje mesmo, porque ou essa criança nasce, ou eu morro!

CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.

A CAMPAINHA TOCOU. VALÉRIA ABRIU A PORTA E ALFREDINHO ENTROU. BEIJOU-A NO ROSTO E DESABOU NO SOFÁ.

 VALÉRIA - Finalmente! Faz uma semana que você não aparece.
 ALFREDINHO - Fala, mulher. O que você tem de tão urgente pra falar comigo?
 VALÉRIA - Você sabe que o inquérito já está na mão do promotor? Sabe que você é indiciado? Sabe que pode ser preso?
 ALFREDINHO - (fitou-a, desconfiado) Como você soube disso?
 VALÉRIA - Foi seu pai, Dorival, que me disse. Apesar de você pouco se importar com ele, vem sempre aqui saber notícias suas...
 ALFREDINHO - E agora... o que vamos fazer?
VALÉRIA - (fazendo um gesto de desânimo) Se você quiser, a gente se manda daqui. Pra qualquer lugar, antes que eles te peguem!
 ALFREDINHO - Não, não concordo com isso. Se a gente fizer isso, eu tou perdido. É o mesmo que confessar. Não, não vou fugir. Vamos, isto sim, andar por aí?
 VALÉRIA - Pra onde?
 ALFREDINHO - Sei lá, dar umas voltas de moto. No caminho, a gente vê...

CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -NOITE.

GERMANO GIROU A CHAVE NA FECHADURA E ENTROU. CARMEN ESTRANHOU A EXPRESSÃO DE PREOCUPAÇÃO DO MARIDO.

 CARMEN - Que cara é essa, homem?
 GERMANO - Marcos pediu Malu em casamento.
 CARMEN - (chocada) O quê?! Não pode ser...
 GERMANO - Foi o Dr. Monteiro Prado que me disse. O noivado já é oficial.
 CARMEN - E por que ele não nos comunicou?
 GERMANO - Talvez esteja constrangido ou envergonhado!
 CARMEN - Sim, porque faz só cinco meses que Diana morreu! Mas logo com essa Malu?! Com tanta mulher no mundo...

DE REPENTE, A PORTA SE ABRIU E MARCOS ENTROU. GERMANO FEZ SINAL PARA CARMEN CALAR.

 MARCOS - (sentindo o clima estranho) Boa noite!

CARMEN VIROU-LHE O ROSTO. MARCOS HESITOU UM POUCO, E DIRIGIU-SE PARA O QUARTO.

 CARMEN - E nós recebemos ele aqui em nossa casa como um filho... pra ele fazer isso conosco. Essa sujeita! Ele me decepcionou e vou dizer-lhe isso na cara!
 GERMANO - (tentou detê-la) Carmen! Espere! Não faça...

ERA TARDE. CARMEN BATEU NA PORTA E ENTROU NO QUARTO DE MARCOS.

CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE GERMANO - QUARTO DE MARCOS - INT. - NOITE.

MARCOS ESTAVA DE COSTAS E VOLTOU-SE AO VER CARMEN ENTRAR. ERA ALGO CONSTRANGEDOR. A RELAÇÃO ENTRE AMBOS TINHA ALGO DE INCESTUOSO DA PARTE DELA. CLARO, ELE NÃO ERA SEU FILHO, MAS ELA ASSUMIRA ESSA
MATERNIDADE AO MESMO TEMPO EM QUE, INCONSCIENTEMENTE, O DESEJAVA COMO HOMEM. POR ISSO, A SUA INDIGNAÇÃO ERA MAIS DE MULHER TRAÍDA DOQUE A DE MÃE-SOGRA.

 CARMEN - Eu soube... Germano me contou... você e Malu...
 MARCOS - É verdade. Nós vamos nos casar. Eu ia dizer a vocês. Estava esperando criar coragem.
 CARMEN - Coragem?... Por quê? Porque você tem
consciência do erro que vai cometer!  
MARCOS - A senhora acha que está errado?
CARMEN - Acho que você não tinha o direito de fazer isso. Com Diana, comigo, com você mesmo! Você nos traiu! Você nos traiu a todos!
 MARCOS - D. Carmen, eu posso explicar... Eu não vou me casar por amor. É porque Malu precisa de mim. E no fundo, ainda é Diana, em parte, que me prende a ela.
 CARMEN - (perplexa) Mas isso é um absurdo!

GERMANO ENTROU NO QUARTO.

 GERMANO - Carmen, tenha calma! Afinal, Marcos não é nosso filho, nem genro, e mesmo que fôsse, nós não teríamos o direito de interferir!

CARMEN BALANÇOU A CABEÇA, DESOLADA E RETIROU-SE DO QUARTO.

MARCOS - Seu Germano, eu lamento muito...
 GERMANO - (tranquilizou-o) Eu é que peço desculpas pela reação de Carmen. Fique tranquilo, rapaz. Ela está de cabeça quente. Precisa de um tempo para compreender...

CORTA PARA:
CENA 8 - PENSÃO PRIMAVERA - REFEITÓRIO - INT. - DIA.

SENTADO A UMA MESA AO LADO DE ALBERTO, COM A ATENÇÃO VOLTADA PARA O RADINHO DE PILHA, CECÉU NEM PISCAVA.

 LOCUTOR - (off) “E atenção, senhores ouvintes. Para os resultados dos jogos de hoje. Coríntians 1 x Santos 1; Ponte Preta 0 x Portuguesa 1; Flamengo 0 x Vasco 1; Botafogo 3 x Santos 1...”

A PROPORÇÃO QUE O LOCUTOR ANUNCIAVA, CECÉU CONFERIA NO SEU CARTÃO E A EUFORIA IA TOMANDO CONTA DO SEU ROSTO. ATÉ QUE ELE QUIS GRITAR E NÃO CONSEGUIU.

 ALBERTO - Minha Nossa Senhora, gente! Ei, vem alguém aqui! Cecéu tá tendo um troço! Depressa!
TATIANA ENTROU CORRENDO NA SALA, SEGUIDA DE D. GIGI, ZÉ URBANO E SORAIA.
TATIANA - Cecéu, meu amor!... Que foi?...
 ALBERTO - Não sei, dona! Ele tava aqui, conversando comigo, ouvindo o rádio, de repente esbugalhou os olhos e perdeu a fala!
 TATIANA - Cecéu! Fale! Será que ele vai morrer de novo! Cecéu, fale, o que foi?... A Loteria Esportiva...
 CECÉU - Acertei! (gritou, voltando a si) Fiz treze pontos! Treze pontos! Ganhei a bolada! Tou bilionário!

CECÉU PARECIA UM LOUCO. LEVANTOU-SE E COMEÇOU A QUEBRAR OS MÓVEIS, A LOUÇA, TUDO...

 CECÉU - Posso quebrar tudo o que quiser! Vamos quebrar a pensão! Eu pagarei, sou rico, tenho cinco milhões!

DONA GIGI, ZÉ URBANO, SORAIA E TATIANA ASSISTIAM ESTARRECIDOS. A LOUCURA TINHA SE APOSSADO DO RAPAZ, DE SEUS AMIGOS, DE TODOS.

 CECÉU - Quebrem tudo! Essa velharia, esses móveis, eu pago! Vamos tocar fogo na casa!...
 D. GIGI - Meu Deus!.... Que loucura!
 SORAIA - Gente do Céu... o Cecéu pirou!

CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA - INT. - NOITE.

JÁ ERA BASTANTE TARDE, OS MAIORES DESATINOS HAVIAM SIDO COMETIDOS NA PENSÃO PRIMAVERA, QUANDO O TELEFONE TOCOU.

 EMPREGADO – Pro senhor, doutor Cecéu.

O RAPAZ FEZ MENÇÃO DE LEVANTAR-SE.

 D. GIGI - Não se incomode, eu levo o telefone até aí.

D. GIGI LEVOU O APARELHO ATÉ A MESA. CECÉU ATENDEU.SÚBITO, COMEÇOU A FICAR VERDE.

 CECÉU - Não!... Não pode ser!... (e caiu no chão, desmaiado).

ZÉ URBANO PEGOU O TELEFONE, TROCOU ALGUMAS PALAVRAS COM O INTERLOCUTOR E DESLIGOU, ENCARANDO A TODOS COM OS OLHOS ARREGALADOS.

 ZÉ URBANO - Gente... vinte mil pessoas acertaram na Loteria Esportiva! Sabe quanto vai dar para cada um? Nem trezentos contos...

FIM DO CAPÍTULO 29

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