CENA 1 - BÚZIOS - PRAIA DE GERIBÁ - EXT. - TARDE.
MALU - (tentando disfarçar a emoção) Marcos...
como me encontrou aqui? Você não devia ter vindo. Por favor, vá embora. Eu...
eu não quero me machucar mais uma vez!...
MARCOS - (segurou-a pelos ombros e olhou-a nos
olhos) Escuta, Malu: pare de agir como uma criança mimada! Você tem que me
ouvir!
MALU - (irredutível) Eu não quero! Eu decidi
que vou tirar você da minha vida. Por isso chamei meus amigos pra passar uns dias
comigo... eles vieram dispostos a me ajudar... e quando tento me convencer que
tenho que parar de pensar em você, você aparece, de repente, e me pede em
casamento! Olha aqui: você não tem o direito de brincar com meus sentimentos!
Você não pode...
NUM IMPULSO, MARCOS TOMOU-A
NOS BRAÇOS E BEIJOU-A NOS LÁBIOS. MALU, A PRINCÍPIO, TENTOU RESISTIR, MASAOS
POUCOS, ENTREGOU-SE.
MARCOS - (segurou-a pelos cabelos, com
delicadeza) Eu não vim a Búzios; não fiz uma viagem de ônibus de mais de duas horas
pra brincar com seus sentimentos. Vou repetir: Maria Luíza Monteiro Prado, você
quer se casar comigo?
MALU - (ainda desconfiada) Você... tá falando
sério?
MARCOS - Como nunca falei em toda a minha
vida! E então... aceita?
O ROSTO DE MALU DESANUVIOU-SE.
AOS POUCOS, DEIXOUSE TOMAR PELA EMOÇÃO.
MALU - (sorriu, feliz) Aceito. É o que mais
quero nesta vida.
Eu te amo, Marcos. Te amo como
nunca amei ninguém.
MARCOS ABRAÇOU-A E BEIJARAM-SE
OUTRA VEZ, TENDO COMO CENÁRIO O MAR AZUL DE BÚZIOS DAQUELE FIM DE TARDE.
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.
NOÊMIA ERA UMA MULHER DE 30
ANOS, MUITO BONITA E EXCEPCIONALMENTE ELEGANTE. MANEIRAS SOFISTICADAS, DE QUEM
SABE-SE IRRESISTÍVEL. DIANTE DELA, MARCELÃOERA OUTRO HOMEM. TÍMIDO, QUASE
ANGUSTIADO. ELA O ESMAGAVA COM SEU CHARME, SEU AR IRÔNICO.
NOÊMIA - Onde está Laurinha?
MARCELÃO - Eu não pude trazê-la... É verdade.
Ela está doente. Nada grave, mas está febril.
NOÊMIA - Ah, é assim... Pois bem, eu vou agora
mesmo à casa do juiz. Você se recusa a cumprir o que ele determinou.
A MULHER FEZ MENÇÃO DE
LEVANTAR-SE. MARCELÃO A IMPEDIU COM UM GESTO.
MARCELÃO - Noêmia, vamos conversar. Eu preciso
lhe explicar umas coisas... Você saiu daqui há oito anos, depois de fazer o que
fez comigo...
NOÊMIA - (cortou) E agora você quer se vingar!
MARCELÃO - Não. É que eu disse a Laurinha que
a mãe
dela morreu. Afinal, o que eu
poderia fazer...quando você se mandou? A verdade era muito pior! Agora você
está morta! Entendeu isso? Morta!
NOÊMIA - (indignada) Você não tinha esse
direito, Marcelão! Não podia fazer isso comigo!
MARCELÃO - Minha cara, se tem alguém aqui que não
pode usar as palavras “direitos e deveres”, esse alguém é você! Abandonou sua
filha há quase sete anos, casou pela quinta vez com o tal armador sueco, ficou
podre de rica! Eu nem esperava vê-la outra vez. Agora volta, de repente,
falando em direitos?
NOÊMIA - Nada disso importa agora. (decidida)
O que quero é ver minha filha! Nem que, para isso, tenha que meter você na
cadeia!
NOÊMIA SAIU, FURIOSA, DEIXANDO
MARCELÃO PARADO NO MEIO DA SALA, BOQUIABERTO.
CORTA PARA:
CENA 3 - BOATE - PISTA DE DANÇA - INT. - NOITE.
SEQUENCIA MOSTRANDO, NA BOATE
LOTADA, A CHEGADA DE MONTEIRO PRADO E ISADORA. ELA, MUITO ANIMADA, PUXANDO O
BANQUEIRO PARA A PISTA. MONTEIRO SE RECUSANDO, NO INÍCIO, MAS DEPOIS FOI
CEDENDO. DANÇAVA DESAJEITADAMENTE, FORA DO RITMO, APENAS PARA AGRADAR A NOIVA.
CORTA PARA:
CENA 4 - SAUNA - INT. - DIA.
MONTEIRO PRADO E MAIS DOIS
SENHORES TOMAVAM UMA SAUNA, QUANDO MARCELÃO ENTROU. O BANQUEIRO SAIU DA SALA
ENFUMAÇADA PARA FALAR COM O PLAYBOY.
MARCELÃO - Bom dia, doutor Monteiro! Lembra
daquele medicamento japonês que lhe prometi?
MONTEIRO PRADO - (vivamente interessado) Ah,
sim, conseguiu?
MARCELÃO - (entregando-lhe duas caixas de medicamento)
Lógico! Não prometi
MONTEIRO PRADO - Graças a Deus! Sabe que eu
não aguento mais! Toda noite, boate. No fim de semana, escalar montanhas... Só
um filho, um filho é a solução!
MARCELÃO - É um remédio à base de hormônios. A
última palavra da ciência. Sei de um caso de um amigo, jovem ainda, casado há
cinco anos, sempre esperando um filho e nada... Ele julgava que a culpa era da
mulher e não era, era dele. Hoje, tem gêmeos.
MONTEIRO PRADO - (excitado) Eu não ambiciono
tanto. Um bastava. Vou começar hoje mesmo, porque ou essa criança nasce, ou eu
morro!
CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.
A CAMPAINHA TOCOU. VALÉRIA
ABRIU A PORTA E ALFREDINHO ENTROU. BEIJOU-A NO ROSTO E DESABOU NO SOFÁ.
VALÉRIA - Finalmente! Faz uma semana que você
não aparece.
ALFREDINHO - Fala, mulher. O que você tem de
tão urgente pra falar comigo?
VALÉRIA - Você sabe que o inquérito já está na
mão do promotor? Sabe que você é indiciado? Sabe que pode ser preso?
ALFREDINHO - (fitou-a, desconfiado) Como você
soube disso?
VALÉRIA - Foi seu pai, Dorival, que me disse.
Apesar de você pouco se importar com ele, vem sempre aqui saber notícias suas...
ALFREDINHO - E agora... o que vamos fazer?
VALÉRIA - (fazendo um gesto de
desânimo) Se você quiser, a gente se manda daqui. Pra qualquer lugar, antes que
eles te peguem!
ALFREDINHO - Não, não concordo com isso. Se a
gente fizer isso, eu tou perdido. É o mesmo que confessar. Não, não vou fugir.
Vamos, isto sim, andar por aí?
VALÉRIA - Pra onde?
ALFREDINHO - Sei lá, dar umas voltas de moto.
No caminho, a gente vê...
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -NOITE.
GERMANO GIROU A CHAVE NA
FECHADURA E ENTROU. CARMEN ESTRANHOU A EXPRESSÃO DE PREOCUPAÇÃO DO MARIDO.
CARMEN - Que cara é essa, homem?
GERMANO - Marcos pediu Malu em casamento.
CARMEN - (chocada) O quê?! Não pode ser...
GERMANO - Foi o Dr. Monteiro Prado que me
disse. O noivado já é oficial.
CARMEN - E por que ele não nos comunicou?
GERMANO - Talvez esteja constrangido ou
envergonhado!
CARMEN - Sim, porque faz só cinco meses que
Diana morreu! Mas logo com essa Malu?! Com tanta mulher no mundo...
DE REPENTE, A PORTA SE ABRIU E
MARCOS ENTROU. GERMANO FEZ SINAL PARA CARMEN CALAR.
MARCOS - (sentindo o clima estranho) Boa
noite!
CARMEN VIROU-LHE O ROSTO.
MARCOS HESITOU UM POUCO, E DIRIGIU-SE PARA O QUARTO.
CARMEN - E nós recebemos ele aqui em nossa
casa como um filho... pra ele fazer isso conosco. Essa sujeita! Ele me decepcionou
e vou dizer-lhe isso na cara!
GERMANO - (tentou detê-la) Carmen! Espere! Não
faça...
ERA TARDE. CARMEN BATEU NA
PORTA E ENTROU NO QUARTO DE MARCOS.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE GERMANO - QUARTO DE MARCOS - INT. - NOITE.
MARCOS ESTAVA DE COSTAS E
VOLTOU-SE AO VER CARMEN ENTRAR. ERA ALGO CONSTRANGEDOR. A RELAÇÃO ENTRE AMBOS
TINHA ALGO DE INCESTUOSO DA PARTE DELA. CLARO, ELE NÃO ERA SEU FILHO, MAS ELA
ASSUMIRA ESSA
MATERNIDADE AO MESMO TEMPO EM
QUE, INCONSCIENTEMENTE, O DESEJAVA COMO HOMEM. POR ISSO, A SUA INDIGNAÇÃO ERA
MAIS DE MULHER TRAÍDA DOQUE A DE MÃE-SOGRA.
CARMEN - Eu soube... Germano me contou... você
e Malu...
MARCOS - É verdade. Nós vamos nos casar. Eu ia
dizer a vocês. Estava esperando criar coragem.
CARMEN - Coragem?... Por quê? Porque você tem
consciência do erro que vai
cometer!
MARCOS - A senhora acha que
está errado?
CARMEN - Acho que você não tinha
o direito de fazer isso. Com Diana, comigo, com você mesmo! Você nos traiu!
Você nos traiu a todos!
MARCOS - D. Carmen, eu posso explicar... Eu
não vou me casar por amor. É porque Malu precisa de mim. E no fundo, ainda é Diana,
em parte, que me prende a ela.
CARMEN - (perplexa) Mas isso é um absurdo!
GERMANO ENTROU NO QUARTO.
GERMANO - Carmen, tenha calma! Afinal, Marcos
não é nosso filho, nem genro, e mesmo que fôsse, nós não teríamos o direito de
interferir!
CARMEN BALANÇOU A CABEÇA, DESOLADA
E RETIROU-SE DO QUARTO.
MARCOS - Seu Germano, eu
lamento muito...
GERMANO - (tranquilizou-o) Eu é que peço
desculpas pela reação de Carmen. Fique tranquilo, rapaz. Ela está de cabeça quente.
Precisa de um tempo para compreender...
CORTA PARA:
CENA 8 - PENSÃO PRIMAVERA - REFEITÓRIO - INT. - DIA.
SENTADO A UMA MESA AO LADO DE
ALBERTO, COM A ATENÇÃO VOLTADA PARA O RADINHO DE PILHA, CECÉU NEM PISCAVA.
LOCUTOR - (off) “E atenção, senhores ouvintes.
Para os resultados dos jogos de hoje. Coríntians 1 x Santos 1; Ponte Preta 0 x
Portuguesa 1; Flamengo 0 x Vasco 1; Botafogo 3 x Santos 1...”
A PROPORÇÃO QUE O LOCUTOR
ANUNCIAVA, CECÉU CONFERIA NO SEU CARTÃO E A EUFORIA IA TOMANDO CONTA DO SEU
ROSTO. ATÉ QUE ELE QUIS GRITAR E NÃO CONSEGUIU.
ALBERTO - Minha Nossa Senhora, gente! Ei, vem
alguém aqui! Cecéu tá tendo um troço! Depressa!
TATIANA ENTROU CORRENDO NA
SALA, SEGUIDA DE D. GIGI, ZÉ URBANO E SORAIA.
TATIANA - Cecéu, meu amor!...
Que foi?...
ALBERTO - Não sei, dona! Ele tava aqui,
conversando comigo, ouvindo o rádio, de repente esbugalhou os olhos e perdeu a
fala!
TATIANA - Cecéu! Fale! Será que ele vai morrer
de novo! Cecéu, fale, o que foi?... A Loteria Esportiva...
CECÉU - Acertei! (gritou, voltando a si) Fiz
treze pontos! Treze pontos! Ganhei a bolada! Tou bilionário!
CECÉU PARECIA UM LOUCO.
LEVANTOU-SE E COMEÇOU A QUEBRAR OS MÓVEIS, A LOUÇA, TUDO...
CECÉU - Posso quebrar tudo o que quiser! Vamos
quebrar a pensão! Eu pagarei, sou rico, tenho cinco milhões!
DONA GIGI, ZÉ URBANO, SORAIA E
TATIANA ASSISTIAM ESTARRECIDOS. A LOUCURA TINHA SE APOSSADO DO RAPAZ, DE SEUS
AMIGOS, DE TODOS.
CECÉU - Quebrem tudo! Essa velharia, esses
móveis, eu pago! Vamos tocar fogo na casa!...
D. GIGI - Meu Deus!.... Que loucura!
SORAIA - Gente do Céu... o Cecéu pirou!
CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA - INT. - NOITE.
JÁ ERA BASTANTE TARDE, OS
MAIORES DESATINOS HAVIAM SIDO COMETIDOS NA PENSÃO PRIMAVERA, QUANDO O TELEFONE
TOCOU.
EMPREGADO – Pro senhor, doutor Cecéu.
O RAPAZ FEZ MENÇÃO DE
LEVANTAR-SE.
D. GIGI - Não se incomode, eu levo o telefone
até aí.
D. GIGI LEVOU O APARELHO ATÉ A
MESA. CECÉU ATENDEU.SÚBITO, COMEÇOU A FICAR VERDE.
CECÉU - Não!... Não pode ser!... (e caiu no
chão, desmaiado).
ZÉ URBANO PEGOU O TELEFONE,
TROCOU ALGUMAS PALAVRAS COM O INTERLOCUTOR E DESLIGOU, ENCARANDO A TODOS COM OS
OLHOS ARREGALADOS.
ZÉ URBANO - Gente... vinte mil pessoas
acertaram na Loteria Esportiva! Sabe quanto vai dar para cada um? Nem trezentos
contos...
FIM DO CAPÍTULO 29
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