CENA 1 - APARTAMENTO DE GERMANO - QUARTO - INT. -DIA
Continuação imediata da última
cena do capítulo anterior.
CARMEN NÃO TEVE RESPOSTA PARA
DAR, FACE À ACUSAÇÃO DO MARIDO.
GERMANO - Eu já desconfiava! Apesar de muito
disfarçada, esta letra é sua!
CARMEN - (olhou-o com ar de desafio) Pois bem,
é! Fui eu que escrevi! E daí?!
GERMANO - Você tem noção da indignidade que
está cometendo?
CARMEN - Indignidade o quê! Indignidade é
aquela assassina ficar solta, impune! Todos estão cegos! A polícia, você, Marcos,
que chegou ao ponto de ficar noivo daquela.... Não suporto a idéia de vê-lo nos
braços dela! (desviou o olhar de Germano) Entenda, ele é como meu filho! E
ela... ela é culpada de muitas coisas!
GERMANO - Você fala... como se... como se quisesse
ele pra você! É isso, Carmen?
CARMEN - (estremeceu) Você está louco! Como
pode falar um absurdo desses? Eu já disse que gosto do Marcos como um filho! Eu
me preocupo com ele, com seu futuro... porque ele é como se fosse uma parte...
da minha Diana!
CARMEN ESCONDEU O ROSTO ENTRE
AS MÃOS E PRORROMPEU NUM PRANTO CONVULSIVO. GERMANO ABRAÇOU A MULHER,
PENALIZADO.
GERMANO - Fique tranquila... que esse assunto
morre aqui. Ninguém precisa saber das cartas... Ninguém.
CORTA PARA: CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
DETETIVE AMADEU - (entrando na sala) Tenho uma
boa notícia, doutor Nogueira: descobri onde seu filho Júlio está morando!
NOGUEIRA ERGUEU OS OLHOS, COM
EXPRESSÃO DE ALÍVIO.
DELEGADO NOGUEIRA - Sério? Onde?
DETETIVE AMADEU - No apartamento de Valéria! Alfredinho
tem as chaves e levou Julinho pra morar lá.
DELEGADO NOGUEIRA - (respirou fundo) Ainda
bem! A saída daquele irresponsável de casa está mexendo com meus nervos! Qual a
idade do seu filho, Amadeu?
DETETIVE AMADEU - Oito anos.
DELEGADO NOGUEIRA - Pois então, aproveite bem
esta fase. Você não imagina as dores de cabeça que tenho graças a Julio e
Selminha! Pra eles, não faz diferença alguma que o pai seja o temido Delegado
Nogueira, o eterno caçador de doidinhos da motocicleta e espantalho das gangues
da Curva do Calombo... Como quase todos os jovens modernos, ou que assim se
julgam, a família é o que menos conta para eles...
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA
MARCELÃO ESTAVA NERVOSO,
PREOCUPADO. CECÉU LIA UM FOLHETO SOBRE INVESTIMENTOS E TIA LALINHA, SENTADA A
UM CANTO DA SALA, FAZIA TRICÔ, ENQUANTO LAURINHA BRINCAVA COM SUAS BONECAS.
VOSKOPOULUS, ENCOSTADO NUM DIVÃ, TINHA CARA DE PROFUNDO TÉDIO. SÚBITO,
QUEBRANDO O SILÊNCIO, MARCELÃO DEU UM BERRO, ASSUSTANDO TODO MUNDO.
TIA LALINHA - (levou a mão ao peito, nervosa)
Virgem Santíssima! Que foi, Celinho?
MARCELÃO - Não posso mais! Não aguento mais!
TIA LALINHA - O que é que você não aguenta
mais, meu Deus? Enxaqueca! Tá sentindo alguma dor?
MARCELÃO - É, tia Lalinha. Isso mesmo. Estou
com uma terrível enxaqueca!
TIA LALINHA - Coitadinho! Deve estar sofrendo
tanto! (levantou-se) Vem, Laurinha! Vamos na farmácia, buscar um remédio pro
seu pai!
TIA LALINHA SEGUROU A MÃO DA
MENINA E ENCAMINHARAM-SE PARA A PORTA, DE ONDE PAROU E FITOU O SOBRINHO,
PENALIZADA.
TIA LALINHA - Aguenta firme, Celinho. Não
demoramos.
E SAÍRAM.
MARCELÃO - Não aguento mais, Cecéu.
Decididamente, não nasci para viver em família. Estou cheio! Cheio!
CECÉU - Também, vou te contar, Marcelão...
Depois dessa tua regeneração, este apartamento tá de encher o reservatório do Guandu!
VOSKOPOULUS - O vizinho de baixo veio
perguntar se o senhor estava doente. Ele tinha feito uma promessa pro senhor mudar
daqui e está achando que foi milagre...
CECÉU - Não há dúvida, se você continua assim,
acaba Santo!
MARCELÃO - Mas o que é que vocês queriam que
eu fizesse? Com essa mulher me vigiando, escarafunchando a minha vida, botando
detetive pra me seguir? Eu tinha que dar uma de Santo Agostinho. Mas não dá mais...
não dá! Sabe quantas garotas eu já botei pra correr, depois que passei a tirar
onda de santarrão? Dezessete!
CECÉU - Tive uma idéia! Por que você não faz
um acordo com sua ex-mulher? Uma trégua, no mínimo...
MARCELÃO - (estalou os dedos) Taí... isso
mesmo! Vou deixar ela pensar que fizemos uma trégua... e parto pro ataque!
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. -DIA.
A CAMPAINHA TOCOU E ALFREDINHO
ABRIU A PORTA. ERA ODELEGADO NOGUEIRA.
DELEGADO NOGUEIRA - (entrando) Onde está
Júlio? Eu sei que ele está aqui!
ALFREDINHO - Qual é, delega... não tenho nada
pra dizer a você, sacou?
DELEGADO NOGUEIRA - (vencido, mudou o tom) Compreenda,
por favor. Não é o policial que está pedindo, mas o pai do seu amigo.
ALFREDINHO - (irônico) Não acredito no que eu
tou vendo: o delegado Nogueira se humilhando!
DELEGADO NOGUEIRA - Já lhe disse que quem está
aqui não é o delegado, mas um pai que precisa ter notícias do filho!
A HUMILHAÇÃO DE NOGUEIRA,
ENTRETANTO, NÃO COMOVEU ALFREDINHO. PELO CONTRÁRIO, FÊ-LO RIR, HUMORÍSTICO E
SARCÁSTICO.
ALFREDINHO - Olha aqui, seu delega, não posso
lhe dizer se o Julio Biruta está ou não residindo no apartamento. Isso é problema
seu. Que se vire! E agora, se me dá licença, vou ter que sair! Tou atrasadão!
NOGUEIRA BALANÇOU A CABEÇA E
SAIU, CABISBAIXO.
CENA 5 - CASTELINHO - INT. - NOITE.
JULIO BIRUTA ENTROU NO BAR E A
PRIMEIRA PESSOA QUE VIU SENTADA A UMA MESA FOI O PÉ DE ANJO. ÊSTE TAMBÉM O
RECONHECEU.
PÉ DE ANJO - Você não é amigo do Cecéu? Senta
aí.
JULIO HESITOU UM POUCO, MAS
AFINAL SENTOU-SE.
PÉ DE ANJO - Pois é, acho que o vi no enterro
dele.
JULIO BIRUTA - É verdade. Eu estive lá.
Cascata, hem? Ele não tinha morrido, nem nada...
PÉ DE ANJO - Coisa esquisita. Sabe que até
hoje eu tou meio encafifado? Aquele troço de morrer e não morrer! Se eu não o tivesse
visto no pijama de madeira... (e apontando para o bar) Toma um chope?
JULIO BIRUTA - Tou duro. Tu paga?
PÉ DE ANJO - Não tou convidando? Garçom, traz
um duplo aqui pro garotão. (e voltando-se para Julio Biruta, com ar de quem não
acredita) Mas tu andas duro assim por quê?
VINTE MINUTOS DEPOIS, QUANDO A
PILHA DE DESCANSOS MOSTRAVA QUE JÁ HAVIAM TOMADO PELO MENOS UMA DÚZIA DE
CANECAS DE CHOPE:
JULIO BIRUTA - Me mandei de casa. Não quero
pedir dinheiro pro velho, tu entendeu?
PÉ DE ANJO - Garoto novo é moleza! Tenho um
jeito de faturar uma grana firme, mole, mole.
JULIO BIRUTA - (os olhos brilhando à menção do
dinheiro) Tou nessa boca!
PÉ DE ANJO - Tu topa?
JULIO RECOSTOU-SE NA CADEIRA,
ANTES DE RESPONDER.
JULIO BIRUTA - Preciso saber, antes, qual é a
parada.
PÉ DE ANJO - (riu alto) É mole, vai por mim.
Uma moleza!
OLHOU PARA OS LADOS E COMEÇOU
A EXPLICAR AO RAPAZ DO QUE SE TRATAVA.
CORTA PARA:
CENA 6 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - NOITE.
LEANDRO E SELMINHA ESTAVAM
SENTADOS NA AREIA, BEIJANDO-SE.
SELMINHA - Eu tenho uma coisa pra te dizer...
(fez uma pausa e baixou os olhos) Aquilo que desconfiava... bem, agora tenho
certeza.
LEANDRO - (sem entender) Do que você tá
falando?
SELMINHA - Eu tou grávida! Vou ter um filho
seu, Leandro.
LEANDRO - (se espantou) Não! Você tá
brincando... Puxa vida, que azar! (houve uma pausa) E agora? Que é que você vai
fazer?
SELMINHA FITOU-O, ATORDOADA.
DOCE BALANÇO CAPÍTULO 37 PÁGINA 08
SELMINHA - O que é que eu vou fazer? Você fala
como se eu tivesse feito esse filho sozinha!
LEANDRO - Escuta aqui, Selminha, eu não quero
ter filho! Isso não tá nos meus planos e...
SELMINHA - (levantou-se, indignada) Você tá
sendo egoísta e covarde!
LEANDRO - Temos que dar um jeito de tirar esse
filho. Vou tentar arrumar o dinheiro com meu velho...
SELMINHA NÃO SE CONTEVE.
DEU-LHE VIOLENTA BOFETADA, FAZENDO LEANDRO CAMBALEAR E QUASE CAIR.
SELMINHA - Canalha!
LEANDRO - Sua... sua louca!
SELMINHA - (com firmeza) Louca eu tava quando
me envolvi com um tipo como você! Some da minha vida, Leandro! Não quero te ver
nunca mais! Nunca mais, entendeu?
SELMINHA DEU-LHE AS COSTAS.
LEANDRO FICOU PARADO,
MASSAGEANDO O ROSTO.
LEANDRO - Caramba!... Que mão pesada!
CORTA PARA;
CENA 7 - APARTAMENTO DE NOÊMIA - SALA - INT. NOITE.
NOÊMIA - Francamente, Marcelão. Quando a
criada me disse que era você, não acreditei. Nãoesperava que viesse visitar me.
Toma alguma coisa?
MARCELÃO - (ressabiado, olhou em volta) Esse apartamento
é seu?
NOÊMIA - Não. Pretendo me
demorar muito pouco no Brasil.
MARCELÃO - (criou alma nova) O armador sueco
já lhe mandou chamar?
NOÊMIA - Não. Eu só tenho aqui um objetivo, e
você sabe qual é.
MARCELÃO - (olhou-a, fixamente) Você não mudou
nada. Nem no físico, nem no caráter.
NOÊMIA - Sabe, eu agora seria até capaz de
gamar por você. Pena que sejamos inimigos...
MARCELÃO - Em toda batalha sempre pode haver
uma trégua.
NOÊMIA - Você é um sem-vergonha, Marcelo.
Afinal, veio aqui para quê?
MARCELÃO - Para isso. Para lhe propor uma
trégua. Podemos entrar num acordo, não?
NOÊMIA SERVIU MAIS UMA DOSE DE
UÍSQUE AO EX-MARIDO E A SI TAMBÉM. BRINDARAM.
MARCELÃO - (gritou, com o ar de quem tramava
alguma coisa) Ao cessar fogo!
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SAGUÃO - INT. - NOITE.
NO SAGUÃO DA CASA DE MONTEIRO
PRADO, MARCOS SE DESPEDIA DE MALU.
MALU - Amanhã vai ser nosso último dia de
solteiros. Você não vai se despedir da vida de solteiro? É costume fazer uma
farra.
MARCOS - (sorriu) Seria justo se fosse me
despedir, realmente, de alguma coisa.
MALU - Mas você vai ser meu marido. Isso não
muda a sua vida?
MARCOS - Muda. Muito.
MALU - Então, depois de amanhã, não será mais
pecado nos beijarmos?
MARCOS - Já nos beijamos antes. Mas, depois de
casados, vai ser diferente.
MALU - Pois então, vamos aproveitar!
BEIJARAM-SE ARDENTEMENTE.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE NOÊMIA - SALA - INT. -NOITE.
MARCELÃO DESPEJOU MAIS UMA
DOSE DE UÍSQUE NO COPO DE NOÊMIA, QUE BEBEU IMEDIATAMENTE. FALAVAM, AGORA,
SOBRE OS EX-MARIDOS DELA, O NÚMERO 1, O 2, O3, O 3-A... A MULHER ESTAVA CAINDO
DE BÊBADA. ENQUANTO ISSO, MARCELÃO APENAS FINGIA, E ENCHIA O COPO DA MULHER,
DISTRAINDO-A O MAIS QUE PODIA. SÚBITO, NOÊMIA VIU TUDO RODAR E CAIU SEM
SENTIDOS. MARCELÃO AMPAROU-A, LEVANDO-A PARA O SOFÁ. COLOCOU UM COPO NA SUA MÃO
DIREITA E UMA GARRAFA ABERTA NO CHÃO. QUEBROU OUTRA GARRAFA, VIROU DUAS CADEIRAS,
DESARRUMOU POR COMPLETO A SALA E ENTORTOU UM QUADRO, PROCURANDO DAR A PIOR IMPRESSÃO
POSSÍVEL. DEPOIS, FOI AO TELEFONE E DISCOU UM NÚMERO.
MARCELÃO - Alô? É da Rádio Patrulha? Meu
amigo, eu
sou um morador aqui da Rua
Montenegro. No apartamento em cima do meu tem uma mulher embriagada, quebrando
tudo, jogando garrafas pela janela, gritando palavrões. Tome nota; Montenegro, 320,
apartamento 301. Venham depressa, antes que ela toque fogo no prédio!
MARCELÃO DESLIGOU. APANHOU
OUTRO COPO E COLOCOU NA MÃO ESQUERDA DA MULHER, ESTENDIDA SOBRE O DIVÃ. PEGOU
UMA GARRAFA E JOGOU PELA JANELA. EM SEGUIDA, SAIU CALMAMENTE, DEIXANDO A PORTA
ENTREABERTA.
FIM DO CAPÍTULO 37
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