CENA 1 - CASTELINHO - INT. -
DIA.
MARCOS - (encarou Dante com irritação) Você me
chamou aqui pra isso?
DANTE - Desculpe, Marcos. Reafirmo meu desejo
de, tãosomente, colaborar com você.
MARCOS - (para Manolo) Tem certeza do que
acabou de dizer?
MANOLO - Acho que era ela...
MARCOS - (insistiu, incisivo) Você acha, ou
tem certeza?!
DANTE - Você não tem certeza, Manolo?
MANOLO - Tenho, sim. Era ela mesma.
CORTA PARA:
CENA 2 - CASTELINHO - EXT. -
NOITE.
MARCOS E DANTE SAÍRAM DO BAR.
MARCOS - E agora, você pretende publicar essa
história?
DANTE - Não. Ainda é cedo para isso. O meu
desejo como repórter e, sobretudo como profissional honesto, é obter uma boa reportagem.
Apenas isso. Se me ajudar, talvez você possa fazer o mesmo por mim, na minha
busca da verdade.
MARCOS - Ajudar como?
DANTE - Eu queria conversar com sua mulher.
MARCOS - Sobre isso? Nunca! Não vou permitir!
Isso está fora de cogitação!
NESSE MOMENTO DOBRAVAM UMA
ESQUINA, QUANDO MALU SURGIU À SUA FRENTE.
MALU - (olhou para Marcos com raiva) Liguei
pro seu Germano e você não apareceu lá!
MARCOS - (ficou meio sem jeito) Estava indo
para lá, mas encontrei um amigo. Conhece? (apresentou) Dante Gurgel.
MALU - (respondeu seca e sem nenhum interesse)
Já nos conhecemos bastante.
MALU VOLTOU-SE, BRUSCAMENTE E
AFASTOU-SE EM OUTRA DIREÇÃO. HAVIA NOTADO QUE O MARIDO LHE MENTIRA.
MARCOS - (chamou, embaraçado) Malu, espere!
Aonde você vai... (bufou, impotente) Droga!
MALU SEGUIU SEU CAMINHO, SEM
OLHAR PARA TRÁS.
CORTA PARA:
CENA 3 - PRÉDIO DO APARTAMENTO
DE MALU - EXT. -NOITE.
MALU VOLTOU PARA CASA, MUITO
NERVOSA. NA PORTARIA, VIU SEU CARRO ESTACIONADO À FRENTE DO PRÉDIO. NUM
IMPULSO, ENTROU NO VEÍCULO E
DEU PARTIDA, SOB O OLHAR CURIOSO DO PORTEIRO DO PRÉDIO.
CORTA PARA:
CENA 4 - RUA DE IPANEMA - EXT.
- NOITE.
NA AV. VISCONDE DE PIRAJÁ,
MALU ACELEROU, IMPACIENTE, ULTRAPASSANDO ALGUNS CARROS À SUA FRENTE.
CENA 5 - AV. VISCONDE DE
PIRAJÁ - EXT. - NOITE.
DORIVAL RIBEIRO COMEÇOU A
ATRAVESSAR A AVENIDA, QUANDO O CARRO SURGIU, EM ALTA VELOCIDADE. MALU ARREGALOU
OS OLHOS, VIROU O VOLANTE, PISOU NO FREIO, PERDEU O CONTRÔLE DA DIREÇÃO. UM
BAQUE SURDO ACERTOU DORIVAL EM CHEIO, ATIRANDOO, DESACORDADO, AO MEIO-FIO.MALU
SAIU DO CARRO, OLHOU PARA A PEQUENA MULTIDÃO QUE COMEÇAVA A SE FORMAR, COMEÇOU
A TREMER DESCONTROLADAMENTE E DESMAIOU. UM HOMEM DE MEIAIDADE QUE SE APROXIMAVA
DOLOCAL AMPAROU-A E GRITOU, AFLITO:
HOMEM - alguém chame uma ambulância, pelo amor
de Deus!
A POUCOS METROS DE DISTÂNCIA,
ALGUNS CURIOSOS ACERCARAM-SE DO CORPO INERTE DE DORIVAL.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO - QUARTODE MONTEIRO - INT. - NOITE.
ERA QUASE 1 DA MADRUGADA,
QUANDO O TELEFONE TOCOU INSISTENTEMENTE. MONTEIRO PRADO ACORDOU. SONOLENTO,
LEVANTOU-SE DA CAMA, DE PIJAMA, E ATENDEU RESMUNGANDO.
MONTEIRO PRADO - Isso é hora de ligar pra casa
dos outros!... Alô! De onde? Hospital? (empalideceu, atônito) Sim, sim! Eu sou
o pai dela! Meu Deus! Onde foi isso? Estou indo praí! Obrigado!
ISADORA - (acordou, esfregando os olhos) O que
aconteceu?
MONTEIRO PRADO - Malu...
atropelou um homem! Está no hospital. Teve outra crise nervosa!
ISADORA - Nossa! Outro dia ela bateu o carro.
Agora, atropelou um pobre coitado!... Gente, alguém tem de caçar a habilitação
da sua filha. Tá se tornando um perigo pra sociedade!
MONTEIRO PRADO - (encarou-a, irritado)
Isadora, poupeme de sua ironia! Se não pode ajudar,por favor, não atrapalhe!
E COMEÇOU A VESTIR-SE, MUITO
NERVOSO.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MALU -
SALA - INT. - NOITE.
QUANDO MARCOS ENTROU EM CASA,
O TELEFONE TOCAVA INSISTENTEMENTE. CORREU A ATENDER.
MARCOS - Alô! Sim, sou eu. Oi, doutor
Monteiro. O quê?
Malu? Deus do Céu! Onde ela
está? Estou indo praí! Até já! (desligou o telefone e correu para a porta)
Deus, faça com que ela esteja bem!
CORTA PARA:
CENA 8 - HOSPITAL - QUARTO -
INT. - NOITE.
EM COMPANHIA DO MÉDICO DE
PLANTÃO, MONTEIRO PRADO ENTROU NO QUARTO, APREENSIVO.
MONTEIRO PRADO - Ela está consciente, doutor?
MÉDICO - (assentiu com a cabeça) Sim. Teve uma
crise nervosa. Chegou aqui tremendo muito, com os olhos vidrados. Deilhe um
calmante. Agora estámais calma.
MONTEIRO APROXIMOU-SE DO LEITO
ONDE MALU DESCANSAVA.
MONTEIRO PRADO - Filha! O que aconteceu com
você, meu amor?
MALU - (fitou o pai nos olhos, com
tranqulidade) Não sei. Não lembro. Por que estou aqui?
MONTEIRO PRADO - (procurou os olhos do médico,
preocupado) Não... não lembra? Não lembra de nada?
MALU - Não. O que aconteceu? Falem, por favor!
A PORTA DO QUARTO ABRIU-SE E
MARCOS ENTROU, AFLITO.
MARCOS - Onde ela está? Ela está bem?
MONTEIRO PRADO - Marcos! Sim, ela está bem...
quer dizer... a não ser...
MARCOS - (desconfiado) A não ser...?
MÉDICO - Ela sofreu um choque muito grande e
teve uma espécie de amnésia. Não se recorda do que aconteceu.
MARCOS APROXIMOU-SE DA CAMA E
BEIJOU A ESPOSA NO ROSTO.
MARCOS - Meu amor, que susto você me deu!
MALU - Marcos, eu quero saber... o que
aconteceu comigo?
MARCOS - Você sofreu um acidente de carro...
mas agora está tudo bem.... não é mesmo, doutor?
MÉDICO - Tão bem que, em uma hora, pode voltar
para casa.
MALU - Ainda bem (bocejou) Quero dormir na
minha cama...
CORTA PARA:
CENA 9 - HOSPITAL - CORREDOR -
INT. - NOITE.
MONTEIRO PRADO FEZ A PERGUNTA
QUE MARTELAVA EM SUA CABEÇA:
MONTEIRO PRADO - Doutor... como está o homem
que ela atropelou? Ele... está vivo?
MÉDICO - Quebrou um braço, duas costelas e
teve algumas escoriações pelo corpo. Está fora de perigo. Teve muita sorte...
MONTEIRO PRADO - (levantou as mãos para o
alto) Graças a Deus! (e para o médico) Doutor... faça o que for necessário por
ele. Tudo por minha conta.
CORTA PARA:
CENA 10 - APARTAMENTO DE
MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.
MARCELÃO GARGALHAVA,
DIVERTINDO-SE COM OS DRAMAS DO RECÉM-CASADO CECÉU.
MARCELÃO - Quer dizer que até hoje você ainda
não compareceu? Tá deixando a coitada da D. Soledad subindo nas paredes?
CECÉU - (sem graça) Não brinca, não, cara! A
situação é desesperadora! Já esgotei todo o meu estoque de desculpas... um dia
é enxaqueca, outro, dor de dente, diarréia, unha encravada...
MARCELÃO - Meu velho, tem que ter jogo de
cintura... Lembre-se da fortuna que você vai herdar quando a velha bater as botas!
CECÉU - Isso é que tá me preocupando! A velha
está mais viva do que nunca! Parece que a cada dia fica mais forte!
MARCELÃO - E Tatiana?
CECÉU - Tá uma fera! Nem tá
falando direito comigo... E agora, meu velho, o que eu faço? Como sair dessa
roubada?
MARCELÃO - (pensou um pouco e falou) O
jeito... é você matar a véia!
CECÉU - Ficou louco, Marcelão? Não brinca
assim, não, pô!
MARCELÃO - Não tou brincando, velho. Imagina
se a velha sofresse um acidente fatal... Você herdaria a grana dela muito mais cedo
e resolveria logo essa situação!...
CECÉU - (coçou a cabeça e fitou Marcelão,
atordoado) Velho, você tá falando sério? Ainda não tou acreditando...
MARCELÃO - Pensa bem, Cecéu: a velha não tá
com os dias contados? Então? Você estaria cometendo um ato cristão... Ia apenas
abreviar o sofrimento dela... Seria uma espécie... de eutanásia, sacou?
CECÉU - Euta o que?...
MARCELÃO - ... násia. Eutanásia. Significa
abreviar a morte de uma pessoa enferma incurável, pra acabar com o
sofrimento... É lógico que ninguém pode saber, além de você!
CECÉU - Mas... mas como eu faria isso?
MARCELÃO - Simples, meu caro: uma queda de uma
escada, por exemplo...
CECÉU - (arregalou os olhos, excitado)
Caramba! Sabe que tou começando a processar essa idéia?
A CAMPAINHA TOCOU. VOSKOPOULUS
ABRIU A PORTA E ENTROU NA SALA SEGUIDO DE D. SOLEDAD. MARCELÃO E CECÉU
FITARAM-NA, SURPRESOS, COMO SE ESTIVESSEM DIANTE DE UM FANTASMA.
CECÉU - Soledad! Você aqui?!
D. SOLEDAD - Que cara é essa, hombre? Parece que ustedes miran un
fantasma! Cecelito,estoy procurando usted o dia todo!
CECÉU - (sorriu amarelo, tentando parecer
natural) Oi, Soledad... estava aqui com meu amigo Marcelão tratando de negócios...
D. SOLEDAD - Io imaginei que encontraria usted
aqui... Mas... que tipo de negócios?
CECÉU - Negócios... negócios, ora...
MARCELÃO - (adiantou-se) Como está, D.
Soledad? Sentese. Aceita um licorzinho? (e para omordomo) Voskô, sirva um licor
pra D. Soledad.
D. SOLEDAD SENTOU-SE AO LADO
DE CECÉU.
MARCELÃO - (cortou) Chamei Cecéu aqui para
discutirmos os planos de uma grande produção cinematográfica. Não sei se a senhora
sabe que sou produtor...
D. SOLEDAD - Non... io non sabia... Cecéu non me dije nada... Que producion están
tratando? Um filme?
MARCELÃO - Um grande filme! Vai ser um
sucesso! Devemos começar a rodar logo depois do carnaval.
D. SOLEDAD - Entonces já tienem todo!
MARCELÃO - Quase tudo. Falta só o argumento e
o dinheiro.
D. SOLEDAD - Entonces non tienem nada! (bebia
o licor preparado por Voskopoulus) Adoro cinema! Mas o que me gusta mesmo son
as telenovelas! E confesso que io tengo um sonho de ser atriz de telenovelas!
“Triunfo del Amor”, “Acorrentada”, “El Privilégio de Amar”, son novela inesquecíveis!
Me gusta mucho!
MARCELÃO - Taí! Nós podemos realizar seu
sonho! Uma
telenovela! Tenho um argumento
maravilhoso que podemos transformar numa novela de muito sucesso, e depois
vender para uma grande emissora!
D. SOLEDAD - Conte-me todo! Do que se trata? Es una história de amor? Adoro
romances!
DIANTE DO CONFUSO E AINDA
ATORDOADO CECÉU, MARCELÃO TRANSMITIU PARA D. SOLEDAD SUA HISTÓRIA COM RIQUEZA
DE DETALHES.
CORTA PARTA:
CENA 11 - HOSPITAL - QUARTO DE
DORIVAL - INT. - DIA.
ALFREDINHO GIROU A MAÇANETA,
LENTAMENTE, E APROXIMOU-SE DO LEITO DO PAI. O FOCO DE LUZ ILUMINAVA O ROSTO
ABATIDO DE DORIVAL. UM DOS BRAÇOSESTAVA ENGESSADO, ESTENDIDO E AMPARADO POR UM TRAVESSEIRO
PEQUENO. NO OUTRO BRAÇO, À ALTURA DO COTOVELO, DUAS TIRAS DE ESPARADRAPO
PRENDIAM A AGULHA. PINGO A PINGO O SÔRO DESCIA. ALFREDINHO FIXOU O QUADRO. DEU
UM PASSO NO INTERIOR DO QUARTO E CERROU A PORTA ÀS SUAS COSTAS. DORIVAL ERGUEU
OS OLHOS AO PERCEBER O LEVE MOVIMENTO DE PÉS. NÃO ERA A ENFERMEIRA. NA SEMI-OBSCURIDADE
DO AMBIENTE CUSTOU-LHE A RECONHECER O VISITANTE.
DORIVAL - Alfredinho
ALFREDINHO - (aproximou-se) Oi, velho!
Caramba, o que aconteceu com você? Um rolo compressor passou por cima?
DORIVAL - (esboçou um sorriso) Quase isso...
Que surpresa você aqui... meu filho lembrou que seu velho pai existe...
ALFREDINHO - A enfermeira me ligou. Falou que
você pediu.
DORIVAL - Pois é. Tava me sentindo muito só,
abandonado nessa cama de hospital. Aí pensei: vou pedir pra alguém avisar meu filho.
Quem sabe não vem me visitar? Não acreditei que você viria...
ALFREDINHO - E aqui estou eu.
DORIVAL - (emocionado) Estou muito feliz...
muito feliz, meu filho.
ALFREDINHO - Eh... vamos parar com esse
melodrama, tá? Não curto isso, velho. Me conta... como aconteceu isso?
DORIVAL - Fui atropelado pela filha do
Monteiro Prado, o banqueiro.
ALFREDINHO - (admirado) Malu?!
DORIVAL - Ela mesmo. Eu tava atravessando a
rua, quando ela me atingiu em cheio.
ALFREDINHO - Malu... caramba...
DORIVAL - Você a conhece?
ALFREDINHO - E muito! É da minha turma! Quer
dizer...era, antes de casar com aquele padreco idiota!
DORIVAL - O doutor Monteiro está me dando toda
a assistência. Assumiu todas as despesas do hospital e do tratamento.
ALFREDINHO - É pouco! Podemos arrancar muito
mais grana dessa gente! São podres de ricos! Vai por mim, velho:
podemos lucrar muito em cima
desse acidente! Se ele se negar a pagar, ameaçamos levar essa história pros
jornais! Vamos exigir, deixe ver... quinhentos mil! Quinhentos mil reais!
Monteiro Prado não vai querer o nomeenvolvido num escândalo! Velho, você foi atropelado
por uma mina de ouro! (cerrou o punho e deu um soco no ar, quase com raiva)
Yes!
FIM DO CAPÍTULO 44
Em virtude do feriado,Doce Balanço volta na próxima segunda às 21 horas.